11 de abril de 2010

Mídia, Política & Tragédia

Bom o artigo de Luciano Martins para o Observatório da Imprensa, sobre os tipos de abordagens políticas da mídia com relação às responsabilidades sobre os estragos das chuvas.

"Depois da fase emocional, em que deu amplo espaço para o relato dos dramas das primeiras vítimas, a imprensa tratou de buscar explicações para a extensão dos deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas ocorridas no Rio de Janeiro. Na sexta-feira (9/4), começam as primeiras responsabilizações pela tragédia.

Se em São Paulo o prefeito Gilberto Kassab foi poupado até o ponto em que não foi mais possível esconder as evidências de omissão da prefeitura – como o corte na verba para coleta de lixo e a redução do número de vagas nos albergues públicos –, no Rio a blindagem de autoridades cai seletivamente.

Até quarta-feira (7), quando se considerava que o pior havia passado, tudo indicava que o noticiário se consolidaria com a contagem dos mortos e as explicações técnicas. As responsabilizações ficavam diluídas entre os prefeitos e governadores que se sucederam no Estado e na cidade do Rio durante os últimos quarenta anos. Eventualmente, uma ou outra referência aos demagogos que sempre se opuseram à desocupação das encostas pontilhou o noticiário, mas até a sexta-feira as críticas eram pouco individualizadas.

Mas a avalancha que atingiu o Morro do Bumba, em Niterói, obriga os jornais a renovar as energias para a cobertura. Foram cerca de 50 casas arrastadas morro abaixo, e mais de 200 pessoas podem estar soterradas sob os escombros.

Dois lados

Na sexta, as explicações técnicas dão conta de que as autoridades municipais de Niterói fecharam os olhos, durante trinta anos, para o crescimento da favela no alto do morro, onde antigamente funcionava um grande depósito de lixo.

Com o amolecimento da terra provocado pelas chuvas, segundo os jornais, o gás metano produzido pelos detritos orgânicos armazenados havia décadas vazou para a superfície, causando explosões e provocando a avalancha.

A Folha de S.Paulo, por intermédio de um colunista, afirma que a Rede Globo protege o governador Sérgio Cabral, tratando-o "a leite de cabra", mas o tratamento desigual é visível em todos os jornais, quando se compara as notícias sobre o Rio e sobre Niterói.

O Estadão, o Globo e a a Folha de S.Paulo acusam o prefeito de Niterói, filiado ao PDT, de haver ignorado estudos sobre a ocupação desorganizada dos morros. Como se não houvesse estudos semelhantes nos morros do outro lado da baía da Guanabara."

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