10 de julho de 2011

Cinema, pedagogia e complexidade quântica!

E continuamos com nossa mini-retrospectiva do Blog.
Esse artigo foi escrito pelo Luiz Felipe Muniz em 2006 e eu fui buscar lá nos arquivos do Blog do Roberto Moraes, uma vez que os arquivos do endereço anterior do nosso se perderam.
É um texto muito interessante.

Cinema, pedagogia e complexidade quântica!

Luiz Felipe Muniz de Souza
Advogado, psicopedagogo, ecologista, educador, industriário.

Quando no final dos anos 80 e início dos anos 90 tive os primeiros contatos com as obras de Fritjof Capra – “O Tao da Física” e o “Ponto de Mutação” –, senti-me atônito e meio que embriagado com tantas abordagens incomuns e surpreendentes sobre os princípios da física e da mecânica quântica, relatados de forma brilhante por aquele autor. Naquela ocasião, lembro-me bem, muitos operadores, da dita “opinião pública”, taxavam as obras como uma fantástica aventura “new age” de um físico mal sucedido que resolveu conhecer os mistérios da Índia. Contudo, mesmo assim, não impediram que se tornassem “best sellers”, e, que o autor continuasse a produzir obras magníficas como: “A Teia da Vida” e “As Conexões Ocultas”.

Eu, que me encontrava bacharelando em Direito na Faculdade de Direito de Campos e ao mesmo tempo aperfeiçoando um perfil estritamente técnico na área de inspeção de equipamentos e instalações junto a Petrobras, vi-me retorcido numa espetacular quebra paradigmática profunda e solitária, ainda maior na medida em que ia percebendo em mim mesmo o modelo formatado nos poderosos preceitos da física newtoniana (clássica / mecanicista) e nas lógicas mais tradicionais do cristianismo católico.

A partir de então eu jamais parei de buscar nos livros os caminhos possíveis para o meu agora pleno desajuste pessoal, algo que somente hoje posso tentar classificar como: crise sócio-eco-psico-antropo-bio-histórico-cultural. Passei a devorar de tudo, da antropologia à cosmologia passando pela administração pública e privada, pelas terapias holísticas e a psicopedagogia, pelas ecologias rasa e profunda e mais recentemente pelos aceiros da complexidade, sempre flertando as costuras impensadas e pouco prováveis aos olhos vendados.

O Direito continua me fascinando, mas como ciência avança tímida e lentamente, vejo-o ainda como a morada infiel da complexidade quântica que atualmente urge, falta-lhe uma matriz ética universal de bases mais complexas e transdisciplinares. Ao mesmo tempo, sinto que há caminhos promissores se ocorrerem iniciativas rigorosas e inovadoras nos campos pedagógicos em todos os segmentos da sociedade atual, de tal forma que haja o gozo real das responsabilidades mútuas e coletivas a partir das opções pessoais que fazemos diuturnamente. Algo que imagino mais provável com a expansão atual e gradual da dimensão feminina nos seletos redutos machistas de poder!

Um exemplo do que tento colocar acima tive a satisfação de ver plasmado numa fita de longa metragem que assisti numa pequena sala de cinema em São Paulo, onde estive recentemente. O título do filme é sugestivo – “Quem somos nós?” –, distribuído pela Playarte e produzido por William Arntz, Betsy Chasse/2004. Inicialmente não fiz fé, no entanto, ao final estava em grande êxtase por ver-me diante de parte de meu próprio drama pessoal dos últimos 15 anos. Fiquei boquiaberto com a animação, o conteúdo e os protagonistas envolvidos – todos Phd’s em física, medicina e biologia – manifestando em viva voz suas experiências e convicções num convite sublime para uma nova visão da realidade humana e planetária a partir do que eles chamam de “a nova ciência: física quântica”.

Os modelos pedagógicos que predominam nos diversos cenários educacionais ainda não conseguiram incorporar saberes já consolidados para as reconstruções neurais e sócio-culturais urgentes, com isso, cada vez mais as escolas e universidades tradicionais se distanciam da realidade bruta, nua e crua! Seja em função dos limites de seus mestres em remodelar os seus egos ou em função dos gigantismos burocráticos e administrativos das instituições educacionais em tempos virtuais, ou, por ambos. O fato é que nem mesmo as grandes instituições empresariais estão aguardando o ajuste das escolas e universidades, elas, as empresas, estão criando as suas próprias universidades e com isso estabelecendo novas lógicas de apropriação do saber diante da voracidade global em tempo real.

Enfim, eu reafirmo o que acredita Edgar Morin sobre o enorme impacto pedagógico e educacional do cinema, ou seja, dos filmes para o nosso momento atual. O freio abrupto do frenesi diário, diante da tela e da celebração ao filme, opera nas mentes e nos espíritos atentos um espaço fértil para a semeadura dos dramas e das realidades cruéis sem a perda de foco e do prazer do novo, aspectos pouco comuns nos cenários das salas de aulas tradicionais. Parabéns aos idealizadores e agora condutores do Cine-Club de Campos dentro de uma faculdade, a de Medicina, não poderia ser mais apropriado! Fica aqui a minha sugestão para a programação: “Quem somos nós?”, não sem antes, é claro, uma introdução ao tema por meio da projeção do filme “Ponto de Mutação” baseado no livro de Fritjof Capra (de mesmo título) e dirigido por seu irmão, Berndt Capra/1991.

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente.

Anônimo disse...

BLZ sua matéria citando o "físico rebelde" Fritjof Capra. Lí o livro "O Ponto de Mutação" e um ponto de interrogação (?) surgiu em minha mente sobre mecânica quântica.
Não sabia que havia um filme sobre as descobertas do genial Capra.