20 de agosto de 2009

Raul Seixas 20 anos depois

Amanhã, 21 de agosto, completam duas décadas do falecimento do cantor e compositor Raul Seixas. Pelos meus conhecimentos de eclético fã musical, posso afirmar que não existem, nem existiram, no mundo muitos artistas como ele. Raul Seixas trouxe a contracultura (com algum atraso) para o país na década de 70. Com ele vieram os questionamentos existenciais e sociais que incomodavam muita gente. A psicologia do "Maluco Beleza" era traduzida em forma de ótimas letras, belas melodias e interpretações únicas. Ao lado de parceiros importantes (como Paulo Coelho) ele construiu uma coleção de clássicos inesquecíveis da música brasileira e do rock. Espero que até o final do ano muitas homenagens sejam feitas a esse ícone e que se faça justiça ao seu legado musical. Cito a seguir um trecho de ótimo artigo do psicólogo e jornalista Mário Lucena.
"Raul nasceu para a música. Cantando, preparou-se para a vida. Cresceu ouvindo Elvis Presley e outros grandes nomes do rock. Imitando seus ídolos fez sucesso em Salvador. Comunicava-se por meio da música. Tornou-se compositor. Criou o que chamou de iê-iê-iê realista. Fez sucesso na voz de Jerry Adriani e intérpretes da Jovem Guarda. Mudou-se em 1968 para o Rio de Janeiro e gravou seu primeiro disco. Foi um fracasso. Passou fome e desistiu da empreitada.
Quando voltou ao disco, em 1971, não ofereceu nada pronto ao ouvinte. Sua música questionava a vida e a morte, a existência, o mundo, o certo e o errado. Raul se questionava. Aos 21 anos deu a volta por cima, conseguindo tudo o que um homem comum poderia desejar: carro, apartamento, mulher, filha e emprego de executivo em multinacional. Morava no Rio de Janeiro, uma das cidades mais belas do mundo. Reconhecia tudo isso, mas "não era o que queria" (Eta Vida). Estava infeliz, pois seu querer era a música.
A metamorfose física ocorreu em 1972. Largou o cargo de executivo da gravadora CBS, deixou de lado o paletó e a gravata, deixou crescer cabelo e barba e voltou a imitar Elvis Presley em festival de música promovido pela Globo. Apresentou-se ao Brasil como cantor de rock, mas era muito mais. Outra metamorfose, ocorrida com a leitura de filósofos reducionistas, como Schopenhauer, havia transformado Raulzito em Raul Seixas. Imortalizou-o a sua autenticidade.
Em 1968 citou Schopenhauer na composição Trem 103: Consciente de voltar por onde vim. O trem, a composição, veículo da morte-renascimento, torna-se presença constante em sua obra. Aparece com destaque em 1973 (A hora do trem passar) e em 1974 (Trem das sete). Em 1989, ano de sua morte, Raul expressou o desejo de mudar a direção do trem (Carpinteiro do universo).
Nenhum parceiro, por mais criativo ou influente, desviou-o dos trilhos. Seguiu com coerência os passos da filosofia. Em alguns momentos citou Protágoras, Sócrates, Platão, Sartre, mas as principais fontes foram o hermético Crowley e o pessimista Schopenhauer. Ambos traziam o hinduísmo na veia, herdado por Raul. Na pele de Krishna cantou seu maior sucesso, Gita."

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