"As próximas horas, antes de domingo
Por Mauro Santayana
As próximas horas, que serão as últimas antes de domingo, devem ser, de acordo com a lei eleitoral e a recomendação do processo democrático, de profundas reflexões. Não somos chamados a escolher entre deuses ou gigantes, mas entre pessoas comuns. Não há, entre os candidatos à Presidência, grandes pensadores, altos chefes militares, líderes carismáticos ou religiosos messiânicos. Os três candidatos não nasceram em famílias de milionários. Essa circunstância poderia ser vista pelas elites tradicionais como preocupante, se tivéssemos elites tradicionais no Brasil. As grandes famílias políticas, que vinham do Império, dissolveram-se no processo de mudanças históricas. Qualquer que vier a presidir a República terá que se submeter à Constituição, e à soberania do povo. Do confronto entre as razões e prerrogativas dos três poderes, deve resultar o equilíbrio necessário à estabilidade jurídica e política do país.
Estamos naquele momento da história das nações em que elas, para crescerem sobre seus êxitos, são chamadas a tomar decisões ousadas. Trata-se de atravessar a estreita faixa histórica, entre o hoje e o amanhã, sob o risco de o Brasil permanecer estagnado, o que significa andar para trás. Neste momento, que tantas nações já viveram, temos que nos acautelar com os que nos lisonjeiam, e examinar, com a mesma prudência, as críticas que nos fazem. Os observadores internacionais apontam a precária educação elementar – base de todo o ensino futuro – no Brasil de hoje como nosso calcanhar de aquiles. Não estamos conseguindo transferir às novas gerações o conhecimento que recebemos de nossos antepassados. Ainda ontem, eminente gramático, o professor Pasquale Cipro Neto, mostrava, nas questões elaboradas pela Fuvest, para o vestibular de 2008, erros crassos de português. Não se trata de questiúnculas gramaticais, como as que motivaram a guerra linguística entre Ruy e Ernesto Carneiro Ribeiro, mas de solecismos tão grosseiros que teriam reprovado um aluno do quarto ano primário, quando a educação era outra.
Nesse item temos que aceitar a crítica dos estrangeiros, e concentrar grande parte de nossos esforços em criar estruturas e métodos de ensino básico que nos salvem desse analfabetismo funcional que nos acorrenta. A partir desta constatação, podemos entender como se formam médicos que não leem, advogados que não sabem redigir uma só frase coerente, engenheiros incapazes de dominar a lógica. Os outros grandes problemas, como os da saúde e da segurança, bem como a execução do grande projeto nacional de desenvolvimento soberano, dependem de corajosa reforma do ensino.
Estamos à beira de um mundo inquieto, à deriva, na travessia do século e do milênio. Todos os grandes estados, seduzidos pelo neoliberalismo, se encontram em crise e, em nosso continente, assistimos aos últimos estertores da violência contra a democracia. Os gravíssimos fatos de ontem, no Equador, são, ao mesmo tempo, de preocupação e de esperança: quase todos os governos os condenam, embora os americanos, como sempre, se limitaram a dizer que acompanham os fatos com preocupação. A América Latina, a partir da OEA, e com o definitivo pronunciamento do Brasil, do Peru e do Chile, fechou o passo aos baderneiros de Quito. A Unasul deverá reunir-se, hoje ainda, em Buenos Aires, a fim de examinar o problema. Até o fechamento desta coluna, o presidente Correa permanecia sequestrado pelos policiais em um hospital, e a rebelião de direita se ampliava.
Tudo isso e mais o resto devem ocupar a nossa consciência, nestas horas de reflexão, antes que o sol de domingo nos chame às urnas.
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