29 de outubro de 2010

Brasil e o futuro - por Mauro Santayana

Sempre que posso busco algum refúgio em Mauro. Poucos pensam o Brasil como ele e poucos são capazes de sínteses tão oportunas e propositivas. O momento do Brasil é único nos últimos 50 anos, por baixo, e eu tenho sempre expressado por aqui as minhas neuras mais abissais com os destinos já perdidos por nós brasileiros; agora, uma vez mais, novíssima oportunidade está em franca expansão entre nós com as possibilidades econômicas, de avanço tecnológico, de inclusão social e de maturidade ambiental... mas é bom que se diga: este país já passou por várias outras oportunidades históricas e corre sério risco de perder mais uma!


O Brasil, além do domingo
Por Mauro Santayana
Na antevéspera eleitoral, peço permissão aos leitores para voltar ao tema de uma coluna publicada, neste mesmo espaço, em abril do ano passado. No Ensaio para uma Teoria do Brasil, redigido em 1966, em pleno governo militar (reeditado pela Fundação Alexandre de Gusmão), o filósofo português Agostinho da Silva revê a velha profecia de que somos o país do futuro. Stefan Zweig partia da suposição de que esse futuro seria atingir os módulos de civilização dos paises ricos e centrais. Agostinho entendeu que a civilização europeia, com sua projeção atlântica, já entrara em decadência. O Brasil é sim, o país do futuro, mas do futuro que a sua sociedade criará, com liberdade, tolerância e fraternidade. Volto a citá-lo:


“O que nos interessa, agora, é realmente o problema do Brasil e da sua capacidade de liderar o futuro humano, quando se desembaraçar de tudo quanto lhe foi inútil na educação européia e exercer, com o esplendor e a vigorosa força de criação que pode demonstrar, as suas capacidades de simpatia humana, de imaginação artística, de sincretismo religioso, de calma aceitação do destino, da inteligência psicológica, de ironia, de apetência de viver, de sentido da contemplação e do tempo”.

Embora com todas as dificuldades que enfrentamos, o Brasil parece voltar a ser o país do futuro, não o futuro que então, e aqui, se imaginava. O texto de Agostinho é mais atual do que antes. Nós nos desviamos de nosso destino quando deixamos de inventá-lo. O culto à Europa e aos Estados Unidos, que teve o seu momento mais caricatural na passagem do século 19 para o 20, e se exacerbou grotescamente com o neoliberalismo das últimas décadas, vem resistindo à lógica. Passamos a importar todos os modelos de fora, dos automóveis de luxo aos processos de administração pública, neles incluídas as leis; do sistema universitário às crises bancárias; da euforia dos cartões de crédito ao consumo de drogas.


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Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom. tenho o acompanhado em seu blog, o www.maurosantayana.com.