Recebo muitos emails contendo artigos, dicas, .pps, etc. enviados por amigos e conhecidos.
Por falta de tempo nem tudo dá para ler.
Sei que muita coisa boa eu perco por causa disso. Em compensação me livro de muitas bombas.
O que não é o caso do artigo abaixo, muito bom.
Foi publicado na revista "Psiquê". Não consegui descobrir em que edição nem achei no site.
Deve ter sido 'scaner' da página pois o arquivo estava em pdf.
De qualquer forma o site é Portal Ciência e Vida. Vale a visita.A matéria é de Rubem Alves, escritor, educador e psicanalista.
O título é "A Liberdade do Arreio".
Fala sobre trabalho, férias, liberdade e... arreios & cavalos.
"Há dois tipos de férias. O primeiro é quando o cavalo cansado, magro, castrado, vai para uma campina verde, sem ninguém que lhe dê ordens, sem hora para se levantar, sem nada para fazer, é só vadiar, pastar, descansar, correr, dormir, fazer o que lhe der na telha! Que felicidade! Bom seria que a vida toda fosse assim! Mas o tempo corre rápido. Passadas duas semanas, descansado e gordo, é hora de voltar para onde estava antes ... para o cabresto, cerca, arreio, carroça, esporas e chicote, para isto que se chama realidade. É hora de retomar o trabalho no lugar onde ele o havia deixado.
Descansar para trabalhar! E há mesmo os cavalos que, ao final das férias, começam a sentir saudades do arreio e da carroça, querem voltar, porque se cansam da liberdade. Todo mundo diz que quer liberdade. É mentira. A liberdade traz muita confusão à cabeça. Melhores são as rotinas, que nos livram da maçada de ter que tomar decisões sobre o que fazer com a liberdade. Quem tem rotinas não precisa tomar decisões. A vida já está decidida. O cavaleiro nem precisa puxar a rédea: o cavalo sabe o caminho a seguir.
O segundo tipo é quando as férias produzem uma perturbação não esperada na cabeça do cavalo. Aqueles campos verdes sem cercas começam a mexer lá no fundo da sua alma, justo no lugar onde estava enterrado o cavalo selvagem que ele fora um dia, antes do cabresto, do arreio e da castração. E aí um milagre acontece: o cavalo selvagem morto ressuscita, se apossa do corpo do cavalo doméstico, que vira outro e até reaprende as esquecidas artes de relinchar, de empinar, de saltar cercas, de disparar a galope pela pura alegria de correr, imaginando-se um ser alado, Pégaso voando pelas pastagens azuis do céu e pulando sobre as nuvens ... É tão bom ... E, de repente, deitado sob uma árvore, ele se lembra de que está chegando a hora de voltar ... Mas ele não quer voltar. Quer ficar. Surgem então, na sua cabeça, perguntas
que nunca fizera: "Por que é que eu volto sempre? Será mesmo que preciso voltar? Estou condenado ao cabresto, arreio e castração? É isso que é a vida? Por que voltar se não quero? Volto porque é preciso? Mas será preciso mesmo? Minha vida não pode ser diferente?': Essas ideias malucas só acontecem quando o cavalo está só com os seus pensamentos.
Férias em solidão são perigosas.
É por isso que muitas empresas fazem colônias de férias para os seus empregados.
Para que não fiquem sozinhos. Para que não pensem pensamentos doidos. Juntos, eles pensam os pensamentos que todos pensam. Pensamentos normais. Os de sempre. Os mesmos. Sobre o que conversam os cavalos domésticos nas colônias de férias? Eles conversam sobre cabrestos, arreios, carroças, cavaleiros, carroceiros ...E, assim, os cavalos selvagens continuam enterrados."
TODO CAVALO PRECISA DE FÉRIAS. AS EMPRESAS SABEM DISSO. E, SE DÃO FÉRIAS PARA OS SEUS CAVALOS, NÃO É PORQUE OS AMEM EM LIBERDADE. É PORQUE PRECISAM DELES REVIGORADOS.
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