Por Marcelo Salles (jornalista, é colaborador do jornal Fazendo Media e da revista Caros Amigos, da qual foi correspondente em La Paz entre 2008 e 2009. No twitter, é @MarceloSallesJ)
"O futuro do Brasil e do continente latino-americano será decidido em outubro. Não em 31 de outubro, mas em todos os dias do mês. Tudo o que for feito hoje e amanhã terá reflexos no dia da votação. Deve ficar claro que o povo brasileiro vai escolher entre dois projetos. O liderado por Dilma-Lula, cuja proposta é de desenvolvimento com distribuição de renda e fortalecimento do Estado, ou o de Serra-FHC, que defende o livre mercado gerador de desigualdades.
Em vez de esperar 15 dias pelo PV, ou Marina Silva, o PT deve ocupar as ruas e as mídias, todas quanto possível, para comparar os dois projetos e combater as mentiras e informaçõ es distorcidas contra Dilma. Não vale a pena esperar o PV por dois motivos. Um de seus mais importantes caciques, Alfredo Sirkis, é de extrema direita. Presidente do partido no Rio, duvido que permita apoio ao PT. Em segundo lugar, os eleitores de Marina não são militantes orgânicos a ponto de acatar uma decisão partidária. Então não vale a pena esperar. Se o apoio vier, ótimo. Se não vier, vida que segue.
Apesar de não ter vencido no primeiro turno, Dilma teve excelente votação. Se não a maior, seguramente uma das maiores votações em primeiro turno na história do país. Cerca de 47 milhões de brasileiros apertaram o 13 no domingo dia 3 de outubro. Desses, a maioria veio das classes populares. Em favelas da zona norte do Rio, por exemplo, Dilma chegou a ter 60% dos votos contra cerca de 15% dos adversários. Já na zona sul, como Ipanema e Leblon, a petista perdeu feio. O corte de classe ficou evidente. No segundo turno, manter a estratégia pa ra os espaços populares e repensá-la da classe média pra cima.
Boa parte dos votos que a candidata petista deixou de receber se deve à campanha aberta que fizeram as corporações de mídia durante todo o mês de setembro. Nesse período, praticamente não houve debate sobre o país. Foi denuncismo puro, o que envolveu Dilma numa agenda extremamente negativa. Isso deve, pelo menos, servir para a esquerda entender a importância de democratizar os meios de comunicação de massa.
Mas não a sangria não se deu apenas em razão da campanha midiática contra Dilma. É fato que boa parte dos votos que as pesquisas indicavam para a petista foi desviada pela boataria fundamentalista. Recebi, em Brasília, panfletos acusando o governo Lula de querer implantar uma “rede de domínio do anticristo no Brasil”. O título da mini-revista, com tiragem de 100 mil exemplares, é: “Rebelião contra Deus quer destruir a família e a Igreja”. Mas acontece que o panfleto, pelo menos esse, não é apócrifo. Lá está a assinatura, em letra minúscula: “Coligação O DF pode mais – PSC, PRTB, PR, PSDB, DEM, PP, PMN, PTdoB, PSDC”. Observem que PSDB e DEM, partidos de Serra e seu candidato a vice, Índio da Costa, estão escondidinhos no meio da sopa de letrinhas.
Como esse, outros panfletos foram distribuídos por aí, assinados ou não. Pela internet a mesma coisa. Como já parece ser consenso na blogosfera, a campanha do PT demorou para desmentir os boatos. Para o segundo turno, é preciso ter uma equipe exclusivamente voltada para esse combate, tanto nas diversas mídias quanto nas ruas.
Por outro lado, esse não foi o único motivo. Além dos que estão de acordo com o projeto tucano – e isso tem que ser respeitado – houve muita gente votando no Serra simplesmente para que haja um “revezamento no poder”. Entre os votos de Marina, há os que não gostam nem do PT nem do PSDB (ou nem de Dilma -Lula e nem de Serra-FHC). Os verdes também podem ter identificado em Marina uma melhor candidata para tocar a pauta ambiental, ou a que melhor representa a classe trabalhadora (já que é negra e tem uma história de luta com Chico Mendes, foi alfabetizada aos 16 anos e etc.)."
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