A última edição de outubro - da versão brasileira - do jornal francês "Le Monde Diplomatique" vem trazendo uma matéria sobre o escândalo da privatização da Vale do Rio Doce, que mereceu destaque no Blog do Professor Roberto Moraes, depois de provocado por um leitor do periódico em nossa região, o Professor Hélio Coelho, um conhecido cidadão campista e um grande nacionalista...e como o tema faz parte da discussão atual, de um processo eleitoral neste Segundo Turno, meio sem escrúpulos e sem a menor ética por parte do PSDB e da Mídia comandada pela Rede Globo, não é demais dar destaque e ampla divulgação por aqui também:
VEJA AQUI
"Segue abaixo uma transcrição do texto:
"Em 1997, quando a Vale do Rio Doce figurava entre as empresas mais rentáveis do país, o governo de Fernando Henrique Cardoso decidiu privatizá-la.
A operação foi realizada dentro de condições duvidosas – para dizer o mínimo – e é questionada até hoje. Liquidada por US$ 3,14 bilhões, a empresa vale atualmente 40 vezes mais (US$ 139 bilhões). As suas reservas em minério de ferro, que estavam estimadas em 2 bilhões de toneladas às vésperas da venda, triplicaram nos dias que se seguiram como num passe de mágica. Além do mais, cerca de 60 filiais não foram levadas em conta na avaliação dos ativos da companhia, realizada com ajuda do grupo Bradesco(*), que se tornou um dos principais acionistas da nova sociedade privada."
Mais a frente, ainda sobre a história da Vale, o texto cita que em 2008 o lucro da empresa foi de US$ 13,3 bilhões e que a distribuição desse lucro entre os acionistas atingiu a cifra de US$ 2,75 bilhões. Imaginem que só essa distribuição de lucros é quase o valor de compra da empresa – US$ 3,13 bilhões.
Isso não é história inventada, está tudo registrado em documentos públicos e na imprensa nacional.
Será que alguém que defenda ou interesses nacionais, com um mínimo de lucidez, ainda é capaz de acreditar no Fernando Henrique Cardoso e votar no seu herdeiro José Serra?
(*) o pessoal do Bradesco deve estar torcendo por Serra de olho na privatização do pré-sal e da Petrobrax.
Acho legal divulgar.
Um abraço,
Helinho."
Já no no site da "Carta Maior" ( SAIBA MAIS ) foi divulgado o discurso que proferiu o saudoso professor Darcy Ribeiro em Janeiro de 1997, um mês antes de sua morte, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) contra a privatização da Vale do Rio Doce:
"No momento em que o tema das privatizações volta ao debate público nacional, vale a pena reler o que Darcy Ribeiro falou na época sobre a Vale, um mês antes de morrer. O discurso abaixo foi feito por Darcy Ribeiro no dia 10 de janeiro de 1997, no Rio de Janeiro, durante um ato público contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce realizado no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Naquela ocasião, Darcy Ribeiro disse a amigos: “Vou ao ato na ABI pela Vale nem que seja carregado”. Ele foi de cadeiras de rodas e falou o seguinte: "
Senhores membros da mesa, queridíssimos companheiros e amigos.
Preciso contar duas coisas de verdade: não sei se é porque estou velho, sentimental - não sei por que - não posso mais ouvir o Hino Nacional sem vontade de chorar! A segunda coisa que gostaria de dizer preliminarmente, em nome dos que estão aqui e de todos os brasileiros é o seguinte: um beijo na testa de Barbosa Lima Sobrinho!
Eu não vou chegar lá! Mas é muito bonito ver um brasileiro, o mais eminente dos patriotas brasileiros, que lutou todas as lutas brasileiras desses últimos 80 anos, vê-lo vivo comemorando os seus 100 anos. Por isso quero fazer esta pequena homenagem em nome de todos os brasileiros, tanto quanto posso representá-los...
O meu discurso vem agora: Por que é que o Presidente Fernando Henrique - um presidente tão culto, tão inteligente, tão agradável - é um presidente tão ruim! É incrível que Fernando Henrique se deixe dirigir pela pior gente que há, que é o economista! Basta dizer que se você pegar três deles, dos mais eminentes e colocá-los juntos para discutir qualquer assunto - eles vão discordar entre si. Eles sempre discordam em tudo porque não têm certeza de nada...
E Fernando Henrique só lê na cartilha dos economistas do BNDEs e do Ministério da Fazenda... É incrível! Eles são bisonhos, são jovens com a cabeça feita lá fora. Eles não têm nada de patriótico, eles não têm compromisso conosco. É gente que nunca fez nada na vida e nem é provável que venha a fazer. Essa gente quer vender, quer entregar o Brasil porque acha melhor. Essa gente usa o Brasil, usa a Nação, para alcançar os seus objetivos. Por isso que é importante que existam cabeças como a de Barbosa Lima Sobrinho...
Existe no mundo empresa mais exitosa para fazer mineração, tirando o minério das minas e transportando-o para os compradores do que a Vale do Rio Doce? Existe acaso empresa no mundo com o domínio da tecnologia mais avançada e mais alta do que a Vale? Existe alguma empresa no mundo com as técnicas de reflorestamento empregadas pela Vale? Existe empresa de mineração no mundo, pública, que seja mais lucrativa do que a Vale? Existe empresa que cuide melhor de seus trabalhadores? É claro que não! É por isso que precisamos defender a Vale. E saber que se ela for privatizada logo de cara 30% de seus trabalhadores serão despedidos.
Existe por acaso empresa melhor associada a outras para a exploração de minérios? É claro que não! Se Fernando Henrique tivesse respostas positivas a estas perguntas, que há empresas melhores do que a Vale, poderíamos entender a sua posição. De que a entrega da Vale estava certa. Mas nada disso existe! Entregar a Vale pura e simplesmente para a acumulação dos banqueiros é uma coisa criminosa!
Por isso temos que aprofundar esta campanha em defesa da Vale do Rio Doce tanto quanto possível, mostrando a Fernando Henrique, de todos os modos, que a Nação não aceita esta venda. A Vale é a segunda das empresas criadas através da sagacidade intensa, da capacidade imensa de Getúlio Vargas. Getúlio fez todo esforço para trazer para o Brasil empresas privadas que quisessem produzir aço. Getúlio sabia que só com um grande parque siderúrgico o Brasil poderia dar certo. Era preciso criar a matriz da indústria brasileira. E a "mater", a mãe da indústria brasileira, foi a Companhia Siderúrgica Nacional.
Sem a CSN não existiria indústria naval, indústria de automóveis, o Brasil não teria dado todos os passos imensos que deu, para o progresso. Volta Redonda foi negociada com Roosevelt como condição para o Brasil apoiar os Aliados na guerra. Pois a CSN foi entregue a três banqueiros. Quem pode confiar que três banqueiros agirão de acordo com a Nação e com os interesses do povo brasileiro? Ninguém!
Agora a segunda empresa também negociada por Getúlio pode ser vendida. Os ingleses queriam que enquanto continuasse a Segunda Guerra, enquanto durasse a guerra, o Brasil vendesse para eles, fiado, todo o minério de ferro que pudessem absorver. Getúlio aproveitou a oportunidade e fez um acordo pensando nos interesses do Brasil. Os ingleses passaram a propriedade que tinham sobre as jazidas de ferro em Minas Gerais com a condição de que o Brasil vendesse fiado para eles. E essa foi a origem, o início da grande Vale do Rio Doce que temos hoje.
Quando a Vale se instalou existiam outras empresas que se dedicavam a mineração, como a Hanna. E a Vale cresceu. É por isso que não há nada mais incompreensível, absurdo, criminoso, de lesa-pátria, do que esta tentativa do Governo de privatizar a Vale do Rio Doce .
(*) Este texto de Darcy Ribeiro nos foi enviado por OswaldoPeres Maneschy (maneschy@urbi.com.br)
2 comentários:
Belíssima lembranca do Darcy! Parabens pela lembranca.
Agradeço ao anônimo e ao Arenari pela participação por aqui.
Não há dúvidas que o Brasil passa por um momento único em sua história recente e que o mundo todo está de olho neste segundo turno!
Fico feliz especialmente com o comentário de alguém, que morando fora do país, como vc, Arenari, valorize os grandes feitos realizados em nome de nossa cidadania e nossa maturidade nacional, como o bem feito pelo Professor Darcy Ribeiro!
Um grande abraço, e mantenham-se por aqui, LF.
Postar um comentário