13 de outubro de 2010

Frei Betto dá o seu testemunho sobre a candidata Dilma do PT

Eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o Frei Betto em 2004 - um dos maiores intelectuais brasileiros de nosso tempo e um dos mais importantes construtores da cidadania brasileira -, quando, à frente do CNFCN - Centro Norte Fluminense para Conservação da Natureza, conseguimos realizar um grande Seminário Regional na cidade de Campos dos Goytacazes/RJ.

Naquela ocasião ele fazia parte do núcleo do Governo de Lula, e não foi nada fácil conseguir uma brecha em sua tumultuada agenda...somente após muita conversa por telefone e por e-mail's é que conseguimos sensibilizá-lo para a importância oportuna da discussão sócio-ambiental regional e para uma abertura de Seminário, que ficaria marcada no tempo e no espaço, pois seria juntamente com o mestre Leonardo Boff na mesa, outro gigante pensador que também conseguimos viabilizar, ao mesmo tempo, em pleno Teatro Trianon, no centro da outrora progressista cidade de Campos dos Goytacazes. Mas esta história merece um artigo a parte depois!

No último dia 03 de outubro, exatamente na data do primeiro turno, quando este destacado brasileiro se deslocava para cumprir o seu papel de cidadão, ele, Frei Betto, foi pego subitamente por dores no peito, cujo relato do episódio virou prosa e verso num artigo que publicou recentemente:  LEIA AQUI 

Agora que a dor do Frei nada mais foi do que uma indisposição orgânica comum, ele retoma indignado - o que cada cidadão e cidadã conscientes deste país, também deveriam fazer - o seu papel de construtor e articulador poderoso da cidadania brasileira num artigo sobre a Candidata do PT - Dilma: 


"Dilma e a fé cristã

Frei Betto *
Adital -


Conheço Dilma Rousseff desde criança. Éramos vizinhos na rua Major Lopes, em Belo Horizonte. Ela e Thereza, minha irmã, foram amigas de adolescência.


Anos depois, Dilma e eu nos encontramos no Presídio Tiradentes, em São Paulo. Ela na ala feminina, eu na masculina, com a vantagem de, como frade, obter permissão para, aos domingos, monitorar celebração litúrgica na Torre, como era conhecido o espaço que abrigava as presas políticas.


Aluna de colégio religioso na juventude, dirigido pelas freiras de Sion, Dilma, no cárcere, participava ativamente de orações e comentários do Evangelho. Nada tinha de "marxista ateia". Aliás, raros os presos políticos que professavam convictamente o ateísmo. Nossos torturadores, sim, o faziam escancaradamente ao profanarem, com toda violência, os templos vivos de Deus: suas vítimas levadas ao pau-de-arara, ao choque elétrico, ao afogamento e à morte.


Em 2003, deu-se meu terceiro encontro com Dilma, em Brasília, nos dois anos em que participei do governo Lula.
De nossa amizade posso assegurar que não passa de campanha difamatória -diria mesmo, terrorista- acusar Dilma Rousseff de "abortista" ou contrária aos princípios evangélicos. Se um ou outro bispo critica Dilma, há que lembrar que, por ser bispo, nenhum homem é santo.


Poucos bispos na América Latina apoiaram ditaduras militares, absolveram torturadores, celebraram missa na capela de Pinochet... Bispos também mentem e, por isso, devem, como todo cristão, orar diariamente "perdoai as nossas ofensas..."

Dilma, como Lula, é pessoa de fé cristã, formada na Igreja Católica. Na linha do que recomenda Jesus, ela e Lula não saem por aí propalando, como fariseus, suas convicções religiosas. Preferem comprovar, por suas atitudes, que "a árvore se conhece pelos frutos", como acentua o Evangelho. É na coerência de suas ações, na ética de seus procedimentos políticos, na dedicação ao povo brasileiro, que políticos como Dilma e Lula testemunham a fé que abraçam.

Sobre Lula, desde as greves do ABC, espalharam horrores: que, se eleito, tomaria as mansões do Morumbi, em São Paulo; expropriaria sítios e fazendas produtivos; implantaria o socialismo por decreto...


Passados quase oito anos, o que vemos? Vemos um Brasil mais justo, com menos miséria e mais distribuição de renda, sem criminalizar movimentos sociais ou privatizar o patrimônio público, respeitado internacionalmente.
Nas breves semanas que nos separam hoje do segundo turno, forças de oposição ao governo Lula haverão de fazer eco a todo tipo de boataria e mentiras. Mas não podem alterar a essência de uma pessoa. Em toda a trajetória de Dilma, em tudo que ela realizou, falou ou escreveu, jamais se encontrará uma única linha contrária ao conteúdo da fé cristã e aos princípios do Evangelho.
Certa vez, relata o evangelista Mateus, indagaram de Jesus quem haveria de se salvar. Para surpresa dos que o interrogaram, ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem disse que seriam aqueles que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem disse que seriam aqueles que se julgam donos da doutrina cristã e se arvoram em juízes de seus semelhantes.


A resposta de Jesus surpreendeu-os: "Eu tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; estive enfermo e me visitastes; nu e me vestistes; oprimido, e me libertastes..." (Mateus 25, 31-46)


Jesus se colocou no lugar dos mais pobres e frisou que a salvação está ao alcance de quem, por amor, busca saciar a fome dos miseráveis, não se omite diante das opressões, procura assegurar a todos uma vida digna e feliz.

Isso o governo Lula tem feito, segundo opinião de 77% da população brasileira, como demonstram as pesquisas. Com certeza, Dilma, se eleita presidente, prosseguirá na mesma direção.


[Frei Betto é escritor, autor de "Um homem chamado Jesus" (Rocco), entre outros livros - www.freibetto.org twitter:@freibetto]"

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