Eu tinha dado um tempo nas crítica aos EUA depois da eleição do democrata Barack Obama.
Mas não deu pra ficar quieto com relação à última operação militar que culminou com o assassinato do terrorista Osama bin Landen.
Não se trata aqui de defender o árabe, nem minimizar a tragédia de 11 de setembro.
As vítimas e a dor da perda são imensuráveis, mas desde aquela época se questiona sobre a posição americana no episódio e de elementos que não ficaram claros no atentado. E não são apenas teorias conspiratórias.
Mas não vamos voltar a essa polêmica.
O ênfase agora é se a operação no Paquistão não vai fazer com que retorne com mais força o sentimento anti-americano existente em diversas partes do mundo.
Para entender melhor vale a pena ver essa entrevista (do jornalista Jorge Pontual) com o historiador Chalmers Johnson que trabalhou para a CIA nos anos 60 e 70.
A entrevista não foi feita agora, foi no ano passado, mas fala exatamento naquilo que eu citei: "o ofensivo imperialismo americano das últimas décadas", a política de intimidação, visando garantir a sua hegemonia no comando dos rumos do mundo, garantindo assim a perpetuação do seu império (que dá sinais claros de estar ruindo). E o sofrimento e consequente retaliações que isso pode ocasionar.
Em complemento leiam o excelente artigo do articulista Mauro Santayana sobre a morte de Bin Landen, do qual reproduzo parte a seguir. Vejam o texto completo em Conversa Afiada.
"A morte de qualquer homem me diminui, disse o poeta, porque sou parte da Humanidade, e, por isso, não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por você. Todos nós morremos um pouco, quando as Torres Gêmeas vieram abaixo, e todos nós morremos quase diariamente com os que tombam e tombaram, na Palestina, no Iraque, no Afeganistão, na Costa do Marfim, em Realengo, em Eldorado dos Carajás, na Candelária e nas favelas brasileiras.
Os americanos comemoram nas ruas a morte de bin Laden, enquanto nos países muçulmanos outros oram pelo homem que consideram mártir. Como parte da Humanidade, talvez não nos conviesse a euforia pela execução sumária de bin Laden, nem a consternação por sua morte. Os atentados de Nova Iorque – de resto, nunca assumidos de forma cabal pelo saudita – foram crime brutal contra a Humanidade, bem como todos os atos de terrorismo, ao longo das duas últimas décadas. Mas a vingança exercida pelos comandos norte-americanos não pode ser aplaudida. Foi um ato de guerra, cometido contra a soberania do Paquistão, desde que ao governo de Islamabad não foi solicitada autorização prévia para a operação – segundo informou o diretor da CIA, Leon Panetta.
Isso nos leva a outra leitura de John Donne: não pergunte que povo foi atingido pela intervenção militar norte-americana. Todos nós fomos atingidos, não só por essa operação bélica e pela agressão à Líbia, mas também, no passado, pela intromissão, política, militar, econômica, das elites que controlam o governo de Washington, desde a guerra de anexação de territórios soberanos do México, movida pelo presidente Polk, em 1846. O México perdeu a metade de seu território, e os Estados Unidos ganharam mais de um quarto do que já ocupavam no norte do hemisfério. Essa vitória excitou a voracidade imperialista dos Estados Unidos, mais tarde explícita no fundamentalismo do “Destino Manifesto”.
Devemos ser cautelosos quando procuramos entender o momento atual..." (segue).
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