Na verdade acho que é o contrário: faço a tarefa enquanto fico atento ao principal - a música!
Hoje ouvi Miles Davis ("Kind of Blue") e John Coltrane ("A Love Supreme").
Não é uma música que - a meu ver - funciona bem durante o dia.
Jazz é música noturna. A não ser que seja um dia chuvoso ou pelo menos nublado e frio. Para mim Jazz não combina com o sol forte de verão. Bem, tem aquele estilo fusion que foi chamado nos anos 80 de Jazz Brasil. Esse sim, mas é outra história.
Na hora em que ouvi, neste domingo, um vento frio soprava e as nuvens cobriam a luz do sol. Sinais outonais de um provável inverno mais rigoroso que se anuncia.
O video abaixo traz uma música do Jonh Coltrane. Faz parte do disco "A Love Supreme", de 1964.
Coltrane foi um gênio do mesmo calibre de Miles, só que produziu menos.
Ele foi o primeiro (talvez o único) que buscou, dentro do Jazz, oferecer ao ouvinte uma experiência espiritual, fruto de sua próprias sensações a respeito da presença de Deus.
À frente de seu tempo, uniu visões místicas do ocidente e do oriente.
Ouvir determinadas criações de John Coltrane - no momento certo - pode mesmo ser um momento de meditação. Mas tem de estar conectado.
Sobre ele, Peter Michael Hamel ("O Autoconhecimento Através da Música"), citando Joachim Berent ("A Música e a Meditação"), escreveu: "Coltrane tocava seu sax-soprano com a sonoridade oriental da shenai ou da sukra. Esta maneira de tocar somente se impôs mundialmente ao se introduzir um elemento ideológico, a inclinação de Coltrane para a religiosidade asiática. Ele conscientizou grande parte do ambiente jazzístico americano sobre a realidade da meditação, e sob sua influência muitos dos músicos que tocavam com ele começaram também a meditar."
É bom frisar que estamos falando da primeira metade dos anos 60.
Coltrane falando sobre "A Love Supreme": "Louvado seja o nome do Senhor. Ondas de pensamento, ondas de calor, todas as vibrações levam a Deus... Deus respira integralmente através de nós tão ternamente que mal o sentimos... Ele é nosso todo... Eu te agradeço, Deus."
Ao som de Coltrane (música "Psalm") e de sua mensagem através de suas criações, desejamos uma boa semana a todos.
Wikipedia:
A Love Supreme - Esse disco, considerado sua magnum opus, é um ode à sua fé no amor e em Deus (não necessariamente o Deus cristão - na capa do disco Meditations ele diz "Eu acredito em todas as religiões"). Este interesse espiritual iria caracterizar muito a forma de tocar e compor de Coltrane a partir de então, como pode ser visto em álbuns como Ascension, Om eMeditations. O quarto movimento de A Love Supreme , "Psalm", é, de fato, um arranjo baseado em um poema feito para Deus por Coltrane e impresso no álbum. Coltrane toca quase exatamente cada nota para cada sílaba do poema, baseando suas frases nas palavras.
Um comentário:
A música sempre desempenhou um papel importante na espiritualidade, seja nas religiões ou nos rituais antigos.
Como intuição ela se apresenta como conexão com o sagrado e com o interior de cada um.
Nos dias atuais, com as pessoas voltadas cada vez mais para fora de si, a boa música pode ajudar a promover um retorno para o interior de cada um, percebendo-se a si mesmo como um ser único, conectado com o Superior.
Fora disso, é tudo passageiro, sem alma, um passar pela vida sem sentido.
Parabéns Marcos por lembrar de John Coltrane. Ele não abriu mão de fazer Jazz para fazer uma música religiosa. Ele se perguntava como era possível através do Jazz se atingir uma outra dimensão.
Outros estilos musicais (como New Age ou Cantos Gregorianos, hinos, etc.) buscam também isso, de uma forma mais direta.
Boa semana.
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