Confesso que não estava muito animado para postar alguma coisa aqui hoje.
Mas me vi em frente ao computador e resolvi escrever um pouquinho.
A princípio ia comentar sobre a situação americana. Mas mudei de ideia. O acordo deve ser fechado hoje e mais uma vez os milionários não serão sobretaxados e os pobres pagarão os custos nos próximos dez anos. Alguma novidade?
Outro tema preocupante é a situação na Síria. Cadê a ONU? Alguma novidade?
Pois vou falar de um assunto emblemático. Um tema recorrente aqui no blog: tempo. Alguma novidade?
A passagem do tempo...
Melhor dizendo, é um tema recorrente em nossa vida, não é mesmo?
Se você tem 16 ou 20 anos talvez isso não tenha tanta importância. Mas, acredite, não será sempre assim.
Aos 52 anos um video como o que coloquei abaixo me afeta muito mais do que afetaria se eu tivesse 22.
O fotógrafo profissional americano (nascido em 1946) Nicholas Nixon também é fascinado (ou preocupado...) com o tema.
Ele realizou um trabalho que muita gente já pensou em fazer e até já fez, mas não com essa visão especial e essa abrangência.
Resumindo: ele fotografou durante 36 anos a sua esposa e as três irmãs dela (família Brown) para registrar os efeitos da passagem do tempo.
As fotos foram tiradas mais ou menos na mesma época de cada ano, em preto e branco e com ângulos, luminosidade e posições semelhantes.
O resultado gerou exposições, prêmios, livro, etc.
Lirismo, beleza e alguns questionamentos existenciais brotam da visão dessas fotos.
Eu ia postar 36 fotos aqui mas ia me dar um trabalhinho... Pesquisei no You Tube e achei um video bem legal que mostra as fotos e ainda tem uma trilha sonora (um suave piano) que tem tudo a ver. Tem sempre uma boa alma fazendo alguma coisa legal na internet...
A bem da verdade Nixon não tirou apenas uma foto por ano. Ele fez uma série para cada data. Daí a possibilidade de ter gerado um livro.
No início da série a mais nova das irmãs tinha 15 anos.
Observando com calma e indo além de apenas reparar a e(in)volução física, podemos captar as mudanças intelectuais e espirituais de cada uma das irmãs. Afinal o tempo não modifica apenas o físico das pessoas, certo? Pelo menos imaginamos que a coisa não se restringe a isso. Assim como imaginamos que a existência não se restringe a esse tipo de passagem de tempo, com princípio, meio e fim.
Selecionei também alguns textos para complementar. E o Pink Floyd também.
O tempo, por Carlos Drummond de Andrade
"O tempo passa?
Não passa no abismo do coração
lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu
transcedem qualquer medida.
Além do amor, não ha nada,
amar é o sumo da vida.
Pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade".
Não passa no abismo do coração
lá dentro, perdura a graça
do amor, florindo em canção.
O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.
O meu tempo e o teu
transcedem qualquer medida.
Além do amor, não ha nada,
amar é o sumo da vida.
Pois só quem ama escutou
o apelo da eternidade".
O tempo, por Osvaldo Montenegro
"Faça uma lista de grandes amigos,
quem você mais via há dez anos atrás...
Quantos você ainda vê todo dia ?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
era o melhor que havia em você?
Quantas mentiras você condenava,
quantas você teve que cometer ?
Quantas canções que você não cantava,
hoje assobia pra sobreviver ...
Quantos segredos que você guardava,
hoje são bobos ninguém quer saber ...
Quantas pessoas que você amava,
hoje acredita e amam você?"
quem você mais via há dez anos atrás...
Quantos você ainda vê todo dia ?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha...
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre...
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece,
na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora...
Quantos mistérios que você sondava,
quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo,
era o melhor que havia em você?
Quantas mentiras você condenava,
quantas você teve que cometer ?
Quantas canções que você não cantava,
hoje assobia pra sobreviver ...
Quantos segredos que você guardava,
hoje são bobos ninguém quer saber ...
Quantas pessoas que você amava,
hoje acredita e amam você?"
O tempo, pelo Pink Floyd
O tempo, por Schopenhauer
"A jovialidade e a coragem da vida, características da juventude, devem-se em parte ao fato de estarmos a subir a colina, sem ver a morte situada no sopé do outro lado.
Porém, ao transpormos o cume, avistamos de fato a morte, até então conhecida só de ouvir dizer.
Ora, como ao mesmo tempo a força vital começa a diminuir, a coragem também decresce, de modo que, nesse momento, uma seriedade sombria reprime a audácia juvenil e estampa-se no nosso rosto.
Enquanto somos jovens, digam o que quiserem, consideramos a vida como sem fim e usamos o nosso tempo com prodigalidade.
Contudo, quanto mais velhos ficamos, mais o economizamos.
Na velhice, cada dia vivido desperta uma sensação semelhante à do delinquente ao dirigir-se ao julgamento.
Do ponto de vista da juventude, a vida é um futuro infinitamente longo; do da velhice, é um passado bastante breve.
Desse modo, o começo apresenta-se-nos como as coisas ao serem vistas pela lente objetiva do binóculo de opera; o fim, entretanto, como se vistas pela ocular.
É preciso ter envelhecido, portanto ter vivido muito, para reconhecer como a vida é breve.
O próprio tempo, na juventude, dá passos bem mais lentos.
Por conseguinte, o primeiro quartel da vida é não só o mais feliz, mas também o mais longo, e deixa muito mais lembranças, sendo que cada um poderia contar muito mais coisas sobre ele do que sobre o segundo quartel.
Como na primavera do ano, também na da vida os dias acabam por tornar-se incomodamente longos.
No outono de ambos, tornam-se mais breves, porém mais serenos e constantes."
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
Porém, ao transpormos o cume, avistamos de fato a morte, até então conhecida só de ouvir dizer.
Ora, como ao mesmo tempo a força vital começa a diminuir, a coragem também decresce, de modo que, nesse momento, uma seriedade sombria reprime a audácia juvenil e estampa-se no nosso rosto.
Enquanto somos jovens, digam o que quiserem, consideramos a vida como sem fim e usamos o nosso tempo com prodigalidade.
Contudo, quanto mais velhos ficamos, mais o economizamos.
Na velhice, cada dia vivido desperta uma sensação semelhante à do delinquente ao dirigir-se ao julgamento.
Do ponto de vista da juventude, a vida é um futuro infinitamente longo; do da velhice, é um passado bastante breve.
Desse modo, o começo apresenta-se-nos como as coisas ao serem vistas pela lente objetiva do binóculo de opera; o fim, entretanto, como se vistas pela ocular.
É preciso ter envelhecido, portanto ter vivido muito, para reconhecer como a vida é breve.
O próprio tempo, na juventude, dá passos bem mais lentos.
Por conseguinte, o primeiro quartel da vida é não só o mais feliz, mas também o mais longo, e deixa muito mais lembranças, sendo que cada um poderia contar muito mais coisas sobre ele do que sobre o segundo quartel.
Como na primavera do ano, também na da vida os dias acabam por tornar-se incomodamente longos.
No outono de ambos, tornam-se mais breves, porém mais serenos e constantes."
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
7 comentários:
Marquinho! Mais uma vez maravilhoso!
Incrível esse trabalho deste fotógrafo e o seu post. Sempre com muito sentimento. Ótimas citações.
Adorei.
Bjs.
"O tempo não para" - Cazuza
Cabe a nós procurar viver intensamente cada momento...
É a pura verdade que quanto mais novos nos desdenhamos dele.
Por si só já é um belo post para todos refletirem...
Um grande exemplo de aproveitar o tempo independente de quando colher os frutos do resultado é o belo trabalho do fotógrafo!
Prêmio mais que merecido.
Parabéns Marcos por mais um post abrangente, de qualidade e bom gosto.
Para mim veio na hora de mais uma viradinha no reloginho do tempo.
Lauro Andrade
Em tempo: parabéns meu amigo Marcos pelo belíssimo post...adorei tb...investi algum tempo nele, viajei no tempo por algum preciosos minutos na proposta do fotógrafo, a gente não se dá conta do tempo, a gente não se encontra no tempo, o tempo é uma morada solitária, a gente literalmente faz o tempo...rever o Pink Floyd é sempre uma re-visita prazerosa neste tempo que não se cansa de nos escapar e o "tempo não para", para não, meu outro grande amigo Lauro Andrade, fotógrafo de mão precisa, um capturador de tempo, um artista de coração elevado, fico mais feliz ainda que o blog tenha puxado ao acaso esta data, nas mãos do Marquinhos, a data do seu tempo, o tempo de suas contas, de seus números, de seus sentidos...
Obrigado pelas palavras Maria Inês, Lauro e Luiz Felipe.
Parabéns Lauro!!!
Que o seu tempo (e o de todos nós) seja o mais loooooongo e feliz possível.
Abraços.
Só para complementar, por coincidência li hoje em uma revista chamada "Lola Magazine" um artigo da atriz (e humorista) Ingrid Guimarães.
Ela fala sobre o tempo, enfatizando nesse caso a falta dele. O que tem tudo a ver com o post: o tempo passa e nem percebemos, o que é uma lástima. Um trecho:
"A gente reclama que não tem tempo, mas esquece que, há pouco tempo, a gente tinha que ir a um orelhão para telefonar, parar para escrever uma carta, levar ao correio e esquentar uma comida na panela. Hoje, o celular, a internet e o microondas encurtaram o tempo, e eu tenho a sensação de que tenho menos tempo ainda.
A vida se tornou barulhenta. Às vezes, tenho saudade de gastar tempo com o silêncio, de ouvir uma música inteira, de não ter caneta para anotar meus afazeres, que eram apenas afazeres. Tempo para ser complexa. Para chorar e me recuperar sem ter que colocar uns óculos e sair correndo. Eu desligava o celular e desligava a mim. Hoje, se quiser me desligar, nem sei mais onde fica o botão. Não tenho mais tempo para sentir o tempo. Talvez porque a gente tenha se ocupado demais para suprir nossos desejos que a gente nem tem tempo de saber quais são. E hoje a frase que mais repito é: "Não dá tempo".
Porque será que na infância a gente não pensava no tempo? E, na adolescência, a gente queria que ele passasse rápido? Por que será que os homens só pensam no tempo quando aparecem os cabelos brancos?"
Marcos e Luiz Felipe, seria bom se vcs colocassem esse texto da Ingrid Guimarães na página principal, complementando o fantástico post das fotos das irmãs. É só uma sugestão.
E parabéns ao Lauro Andrade pelo aniversário. Ele é fotógrafo, não é?
Saudações.
Obrigado, Marcos e Luiz Felipe.
Eu que fico feliz de poder investir um pouco do meu tempo neste blog maravilhoso.
Obrigado Anônimo, dentre outras coisas, dedico uma boa parte do meu tempo à fotografia...
Como disse sabiamente o Luiz Felipe, procuro capturar o tempo da melhor maneira possível, rs.
Sucesso o tempo todo ;)
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