10 de agosto de 2010

O Bom Velhinho

A principio eu sempre tive candidato escolhido para a eleição presidencial. Minha tendência é ir mesmo na onda de quem o Presidente indicou. E pronto.
O candidato do PSOL que sempre aparece com 1 ponto nas pesquisas tem recebido destaque porque teria sido o melhor de um debate morno.
A midia pode girar os holofotes para ele para ver se a eleição embola um pouco, uma vez que a candidata do PV não tem decolado como se esperava.
Estratégias a esquerda ou a direita a parte, a verdade é que o bom velhinho animou um pouco a referida "competição".
Ele tem uma história. Mas o fato é que as propostas fogem em muito da viabilidade do mundo real.
De qualquer forma, como estão dizendo também, ele não tem nada a perder, falando a verdade que ele vislumbra.
Reproduzo abaixo parte de um artigo bem legal publicado no "Observatório da Imprensa". Leiam a íntegra aqui.


DEBATE NA BAND
Veracidade subjetiva e a paz de espírito
Por Eugênio Bucci em 10/8/2010
"Twitter, my friends!" Assim falou Plínio de Arruda Sampaio. E prosseguiu: "É twitter! Eu sou o maior twittador agora."
Com essa conclamação, o candidato à presidência da República pelo PSOL intimou seus seguidores a "twittar" e entrar "diretamente" no debate político. Aos 80 anos de idade, vem esbanjando jovialidade – e não apenas quando demonstra familiaridade com certas modas tecnológicas. No debate da TV Bandeirantes, na quinta-feira (5/8), era ele o mais bem-humorado, o menos previsível, o menos careta. Plínio tinha mais frescor e mais presença de espírito. Roubou a cena, como disseram.
Nos dias subsequentes, comentários nos jornais encontraram uma explicação plausível para uma performance tão descontraída e desapegada: Plínio não tem nada a perder. Do alto de seu 1% nas pesquisas eleitorais, pode arriscar tudo, pois, mesmo perdendo tudo, não perderá grande coisa. E até poderá sair ganhando, ou seja, poderá ganhar simpatia, poderá marcar positivamente a imagem do PSOL como um partido que não tem nada a esconder. Se demonstrar que não está disposto a trocar voto por fingimento, ele tem chance de sair no lucro, mesmo que não conquiste voto.
(...)O brilho particular dessa candidatura nanica não se deve simplesmente à condição daquele que, não tendo nada a perder, sai por aí bancando o franco atirador, como também já se disse. Ele não está fazendo o tipo "aventureiro feliz". Há mais elementos nessa história, há algo mais interessante aí. No meu modo de ver, Plínio se comunica bem porque está bem – em tempo, é justamente por isso que o tema me interessa, por se referir à qualidade da comunicação política entre um candidato e seu público –, porque está inteiro no que diz. Ele dá a sensação de não ter uma agenda oculta. Ele olha no olho do interlocutor e manda ver. Que outros candidatos podem se abrir da mesma forma?
(...)Não se pode afirmar que Plínio enuncie "a" verdade, uma vez que suas teses são, no mínimo, controversas, e às vezes carregam uma nostalgia utópica com toques de baile da saudade. Mas, de outro lado, não há dúvida de que ele fala "a sua" verdade, sem torcer nem edulcorar. Pode parecer pouco, mas isso o diferencia radicalmente dos outros. Nesse sentido, tenho a impressão que o diferencia não é tanto o programa, mas a postura pessoal, embora as duas coisas não se desvinculem por inteiro.
(...)A gente olha nos olhos apertados de Plínio de Arruda Sampaio e somos convidados a crer que ele crê na coincidência entre o que diz e o que pensa. Ele parece, no mínimo parece, acreditar que o que diz coincide com o que pensa. Não é pouco, não é mesmo. Ao vê-lo discursar, o espectador não se vê surpreendido pela desconfiança de que, em privado, ele diria algo diferente. Não há sinais de que ele nos esconda uma parte do que pensa. É fantástico.
Outra coisa, totalmente outra, é saber se o que ele diz é verdadeiro. Ou, em outras palavras, outra questão seria saber se, verdadeiramente, o que ele prega representa a melhor solução para o Brasil. Devo, nesse ponto, deixar bem claro o que penso – o que também não sei se é efetivamente verdadeiro, mas ao menos é o que penso que penso. Devo declarar que, a meu juízo, as teses do PSOL nem sempre conjuminam com os desafios postos por essa outra categoria discursiva, essa tal a que damos o nome de realidade. Respeito, respeito muito alguns dos integrantes do PSOL, como o deputado federal Chico Alencar, entre outros, mas não me vejo sinceramente convencido das propostas que os unificam. Por vezes, tenho a impressão de que eles habitam outro planeta, e, nessas horas, repito comigo mesmo que o pessoal do PSOL vive no mundo da PLUA.
(...)A certa altura do debate, Plínio fez piadas a respeito do "bom-mocismo" dos outros três debatedores, e eu fiquei pensando nele como uma forma de "bom-velhismo", o bom-velhismo que é seu nirvana total. Com seu 1%, ele, que é católico, está no seu auge espiritual. Não precisa de mais do que isso para estar feliz. Ele se realiza e, sem ponta de culpa, se diverte largamente. Ele está lá por missão, é verdade. Mas também está lá a passeio. Eis aí outro aspecto que distingue a comunicação que ele é capaz de pôr em marcha.
(...) Não penso o que ele pensa. Não concordo com o que ele enuncia. Mas, mesmo assim, vejo nele um homem em paz de espírito. Ele não é fanático, não é um profeta dos fanáticos, é apenas um ego tranqüilo, que, mais do que não ter nada a perder, não deve nada a ninguém.
Conheço Plínio de Arruda Sampaio de outros carnavais, de outras quaresmas, de outras procissões. Nunca o admirei tanto como agora."

2 comentários:

Ryan disse...

Eu ainda não defini em quem votar, mas vejo tendência de tomar o mesmo caminho seu.
A crônica sobre o Plinio é realmente muito boa e foi o mesmo que percebi sobre ele.
Mas também concordo com o fato de que não dá para entregar para ele a Presidência.
Mas serve como um referencial.
Abraço.

Ricardo Gomes disse...

Legal o comentário que ele fez sobre o Serra ser hipocondríaco. Ótimo humor.