10 de fevereiro de 2012

Quando o chifre dói, o diploma cai da parede

Quem acompanha o blog sabe que somos aqui muito ligados em música.
Quase todo tipo de música: Rock Progressivo, Jazz, Blues, Heavy Metal, Música 'Erudita", MPB, etc.
Talvez eu até tenha certa implicância com algumas coisas feitas atualmente por aqui (in Brazil), mas de forma geral me interesso pelas formas musicais mais populares.
É o caso do estilo denominado "romântico brega" que acompanho com simpatia desde a época do Fernando Mendes, Odair José, José Augusto e outros que muitos nunca ouviram falar.
Wando se enquadrava nesses termos e ele era bom no que fazia. Outro é o Reginaldo Rossi que começou cantando com a turma da 'Jovem-Guarda' nos anos 1960.
Pois é exatamente do Reginaldo Rossi o melhor artigo que li esses dias sobre a morte do Wando e sobre a música que ele fazia.
Um texto leve que mostra o porque do sucesso do cantor e das músicas dramaticamente românticas. Não é para menos porque "desde o começo do mundo, o tema forte foi e sempre será o amor, os encontros e desencontros...".
A matéria foi publicada ontem na edição normal do jornal O Dia.
Reproduzimos abaixo.

Reginaldo Rossi: Um ídolo chamado Wando
Rio -  "O bom cantor é aquele de quem o povo canta as músicas. O bom compositor, também. Assim era o Wando: o Brasil perdeu um ótimo compositor, porque o povo cantou diversas músicas dele, e um ótimo cantor, porque o povo se divertia, sorria nos shows dele. E era um cidadão de bem, porque ninguém ouviu falar de Wando com falcatruas. Era leal, alegre, sincero, cumprimentava os amigos com beijos. Eu conhecia o Wando há anos. Nunca tivemos intimidade, mas trabalhamos juntos algumas vezes.

O que as músicas do Wando têm de melhor é o mesmo que tem nas minhas, nas do Roberto Carlos, do Zezé Di Camargo: são narrações de amores, incompreendidos ou compreendidos. Desde o começo do mundo, o tema forte foi e sempre será o amor, os encontros e desencontros. De vez em quando, fazem sucesso músicas para pular e rir, mas não é isso que fica. Há um ano, era “vou não, quero não, posso não”. Foi uma onda que passou. Agora tem “ai, se eu te pego...” O que é válido, porque o povo tem que divertir. Mas o que fica é: “Por que me arrasto aos seus pés? Por que me dou tanto assim?”. O que fica é: “É o amor / que mexe com minha cabeça e me deixa assim”. O que ele cantava, o que ele compunha, é o grande tema.

O Frank Sinatra cantava “just forgive me” (apenas me perdoe). Os franceses faziam um drama, “ne me quittes pas” (não me abandone). Por que só em português a música que fala de amor é brega, diminuta? Tem essa coisa hipócrita que a gente vive. Venho de escola superior, estudei Engenharia. A gente via filmes de Antonioni, Fellini, Bertolucci, mas o que a gente gostava mesmo era de John Wayne e a cavalaria. Quando o chifre dói, o diploma cai da parede.
São vidas de casais normais, toda a sociedade passa por isso: quando dá ciúme, o cara vai atrás da mulher para ver se ela foi mesmo para o dentista, a mulher vai atrás ver se ele foi mesmo jogar pôquer com os amigos. E quem faz isso é operário, gari, prefeito, desembargador, juiz.

Quando o cara morre, todo mundo se revela: “Ele era brega, mas ele era bacana”. Prefiro que digam isso enquanto estou vivo. Mas que o Wando teve reconhecimento em vida, teve sim: a TV o prestigiou, ele foi chamado a diversos programas, todo mundo conhecia as músicas dele. Fiz um CD chamado ‘O Melhor do Brega’, em que gravei ‘Fogo e Paixão’, que eu canto em todo show. É ótimo: você abre a boca e o povo canta junto. Você pode até desafinar, que ninguém ouve."

Reginaldo Rossi, cantor, em depoimento a Kamille Viola

Um comentário:

Ana disse...

Excelente artigo do Reginaldo Rossi. Muito bom mesmo. E retrata a realidade. Você está certo. É mesmo o melhor texto referente à morte do Wando!