14 de fevereiro de 2012

O Brasil e a nova história a ser contada e apropriada por nossa gente: Leonardo Boff

 É com grata satisfação que encontro no JB uma reflexão do Leonardo Boff sobre este novo Brasil que devemos fazer surgir diante da veloz mundialização imposta pelas forças tecnológicas da atualidade e pela indomável ganância dos donos do mercado global e senhores dos destinos dos débeis frágeis de agora: classe média européia e muitos outros tristes desatentos e desorganizados mundo afora...tomara que nós por aqui tenhamos competência em ocupar o nosso espaço neste cenário crítico que está montado.

O interessante foi encontrar nas abordagens do texto, parte do que eu havia tratado muito superficialmente ao responder ao amigo Marcos Cardozo pelas provocações a respeito da viagem recente ao continente  europeu em crise profunda: veja AQUI

"Brasil: de empresa internacionalizada a sociedade 

Há interpretações clássicas sobre a formação da nação Brasil. Mas esta do cientista político Luiz Gonzaga de Souza Lima é seguramente singular e adequada para entender o Brasil no atual processo mundial de globalização: A refundação do Brasil: Rumo a uma sociedade biocentrada (Rima, São Carlos, 2011). Seu ponto de partida é o fato brutal da invasão e expropriação das terras brasileiras  pelos “colonizadores”, à base da escravidão e da superexploração da natureza. Não vieram para fundar aqui uma sociedade mas para montar uma grande empresa internacional privada, uma verdadeira agroindústria, destinada a abastecer o mercado mundial. Ela  resultou da articulação entre reinos, igrejas e  grandes companhias privadas como a das Índias Ocidentais, Orientais, a Holandesa (de Maurício de Nassau), com navegadores, mercadores, banqueiros, não esquecendo as vanguardas modernas, dotadas de novos sonhos, buscando  enriquecimento rápido.
Ocupada a terra, para cá foram trazidas matrizes (cana-de-açúcar e depois café), tecnologias modernas para a época, capitais e escravos africanos. Estes eram considerados “peças” a serem compradas no mercado e como carvão a ser consumido nos engenhos de açúcar. Com razão afirma Souza Lima: “O resultado foi o surgimento de uma formação social original e desconhecida pela humanidade até aquele momento, criada unicamente para servir à economia; no Brasil  nasceu o que se pode chamar de formação social empresarial”.
A modernidade no sentido da utilização da razão produtivista, da vontade de acumulação ilimitada e da exploração sistemática da natureza, da criação de vastas populações excluídas, nasceu no Brasil e na America Latina. O Brasil,  neste sentido, é novo e moderno desde suas origens.
A Europa só  pôde fazer a sua revolução, chamada de modernidade, com seu direito e instituições democráticas, porque foi sustentada pela rapinagem brutal feita nas colônias. Com a independência política do Brasil, a formação social empresarial não mudou sua natureza. Todos os impulsos de desenvolvimento ocorridos não conseguiram diluir o caráter dependente e associado que resulta da natureza empresarial de nossa conformação social. A tendência do capital mundial global ainda hoje é tentar transformar nosso eventual futuro em nosso conhecido passado. Ao Brasil cabe ser o grande fornecedor de commodities para o mercado mundial, com parco valor agregado.
A empresa Brasil é a categoria-chave, segundo Souza Lima, para se entender a formação histórica do Brasil e o lugar que lhe é assinalado no processo atual de globalização desigual. O desafio consiste em gestar um outro software social  que nos seja adequado, que nos desenhe um futuro diferente. A inspiração vem de algo bem nosso: a cultura brasileira. Ela foi elaborada pelos escravos e seus descendentes, pelos indígenas que restaram, pelos mamelucos, pelos filhos e filhas da pobreza e da mestiçagem. Gestaram algo singular, não desejado pelos donos do poder, que sempre os desprezaram e nunca os reconheceram como sujeitos e filhos e filhas de Deus.
O que se trata agora é refundar o Brasil, “construir, pela primeira vez, uma sociedade humana neste território imenso e belo, o que  nunca ocorreu em toda a era moderna, desde que o Brasil foi fundado como empresa; fundar uma sociedade é o único objetivo capaz de salvar nosso povo”. Trata-se de passar do Brasil como Estado economicamente internacionalizado  para o Brasil como sociedade biocentrada.

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Um comentário:

Maria Inês disse...

Leonardo Boff sempre maravilhoso, hein Luiz Felipe?!