Faltam aproximadamente 40 dias para as eleições. Acho que o Blog deveria estar dando mais destaque, com posts diários sobre o assunto. Por outro lado vemos na Internet e nos meios de comunicação convencionais o devido destaque ao assunto.
Assim, para os leitores, o que não falta é opção para se bem informar sobre os fatos, lendo inclusive muitas opiniões divergentes sobre candidatos, partidos, programas e pesquisas.
Aqui no Blog o maior ativista na área política (e ambiental) é o Luiz Felipe, que nem sempre tem tempo para desenvolver suas ótimas visões acerca desse processo.
Resolvi hoje colocar algo interessante para reflexão.
O primeiro texto é de um cronista e escritor que gosto muito. É o Arnaldo Bloch que escreve aos sábados no Segundo Caderno do jornal O Globo. A crônica em questão foi publicada no último sábado e é uma resposta a um texto do Arnaldo Jabor.
Eu não li o que escreveu o Jabor mas pelas palavras do Bloch ele deve ter detonado (como de hábito) o Lula e todo mundo que gosta do Lula, que tem aproximadamente 80% de aprovação da população: "Não vou crer que os tais 80% de Ibope a que você se refere sejam compostos de uma substância humana miseravelmente iludida, incapaz de contemplar o andar da carruagem, desprovi-da de qualquer juízo".
O texto do Bloch não é necessariamente em defesa do Lula ou da Dilma, mas acima de tudo do Brasil e do povo brasileiro que sabe sim construir o seu caminho. E ele dá uma lição em como construir uma resposta de forma incisiva (contrária), mas "na moral".
O segundo texto é de um jornalista do JB. É uma crônica mais antiga (acho que de 12 de agosto), sobre as entrevistas feitas no Jornal Nacional com os candidatos. Reparem que ele acerta no aumento da diferença entre os principais candidatos que iria acontecer em breve. Daí a atualidade da crônica.
Sobre o texto, concordo que houve uma clara simpatia pelo Serra. Exemplo: porque não perguntaram ao Serra sobre o Mensalão do PSDB ao invés do Mensalão do PT? Já não tinham pressionado a Dilma sobre isso?
Com relação ao horário político eleitoral, pela primeira vez vi na história um candidato mostrando o atual Presidente, a quem ele se opõe (ou deveria se opor, por ser da oposição), ser mostrado como algo positivo, defendendo a idéia de que ele, Serra, seria a pessoa ideal para dar continuidade ao seu trabalho. Peraí, será que entendi bem?
Pô Jabor, vamos ouvir uma musiquinha!
Um arrepio de amor pelo Brasil
"Prezado xará Jabor, estava lendo dias atrás sua coluna sobre os arrepios que vem sentindo diante do cenário eleitoral (com Serra ou com Dilma, uma grande cilada nos aguardaria!), e dos perigos de nosso atual momento, no qual estaríamos cercados por forças que, de um modo ou de outro, nos levarão às trevas da mais inexpugnável opressão.
Jabor, eu aqui declaro: ao contrário de você e de tanta gente à minha volta, ainda não escolhi meu candidato. Que nem disse o Jards Macalé: “Meu voto é tão secreto que eu mesmo desconheço.” Além disso, Jabor, não sou analista situacional nem tenho a sua bagagem em vivência de processos políticos traumáticos. Nasci em 1965, meus pais não eram ativistas, minha família não rezava por cartilhas muito libertárias. Por motivos de superproteção materna maior, não frequentei os movimentos da esquerda sionista (pô, mamãe!).
Fiquei mesmo ali, na santa ignorância sobre o arbítrio e a violência do regime, até a sua abertura. Entre um Dostoievski, um Kafka, um Hess e um Ionesco, abria os jornais locais e relaxava com os quadrinhos e os esportes. Achava Médici um velhinho simpático (o único defeito era ser Flamengo) e me emocionava com as paradas militares. Até hoje, quando ouço ruídos de helicóptero em domingo de sol, volta- me aquela sensação de conforto alienado. E fico com um baita sentimento de culpa.
Em compensação, minha primeira grande emoção cívica esclarecida (até onde era possível ser esclarecido) foi de lavar a alma: a corrente das Diretas Já, a vigília, o comício do milhão na Candelária. O pano da censura baixou e eu bebia, no teatro, no cinema, nas artes, nos jornais, essa água nova do saber.
Na faculdade, liberto do cerco familiar, integrei uma turma que já via como anacrônicas as “questões de ordem” dos veteranos engajados e, ao mesmo tempo, negava as ondas de caretice da direita tecnocrática que se insinuava na arena do movimento estudantil.
Sabe, Jabor, gosto muito da sua verve e aprecio seu alarmismo quando ele traz junto uma autoironia redentora, uma confissão da própria paranoia, um reconhecimento do pathos do seu discurso, aquela coisa do bode preto, do seu bode preto, estar sempre à espreita. Mas ao tomar o trem de seus arrepios recentes, confesso que senti também um arrepio, provocado pelo seu desencanto e pela sua desesperança no povo brasileiro. Bati na folha do jornal e disse: não, não e não! Não vou crer que os tais 80% de Ibope a que você se refere sejam compostos de uma substância humana miseravelmente iludida, incapaz de contemplar o andar da carruagem, desprovida de qualquer juízo.
O brasileiro tem lá suas carências de educação e de proteína, mas não consigo, não consigo mesmo, ver esse povo, passadas duas décadas e meia do início da redemocratização, caminhar no escuro, ou na direção do abismo. Vejo, sim, um país que, por obra do eleitor, levou Collor, FH e depois Lula ao poder e que, através de suas escolhas, certas ou erradas, deu um belo passo no sentido da consolidação do tal processo democrático.
Olha Jabor, não vejo encanto em nenhum dos candidatos. Não é, aqui, uma questão de preferência, mas de referência. Talvez por ser um filho da ignorância que de repente acordou na grande virada; ou talvez por ser menos marcado por convulsões radicais eu tenha esta percepção positiva. Por outro lado, há fatos a apoiá-la: independentemente dos desmandos desse ou daquele, dos equívocos, das apropriações de ideias, há uma verdade indiscutível: não veio a ruptura institucional que tantos temeram.
O Brasil foi, e é, maior que Lula, maior que FH, que Dilma, que Serra, que os Arnaldos, os jabores e os blochs. O Brasil é esse bêbado equilibrista que não caiu. Que estabilizou a moeda e a manteve estável. Que não fechou o Congresso. País onde as instituições e os meios de difusão de informação têm lá suas turras, mas a imprensa está aí, dialogando com a sociedade e com as esferas políticas em meio à transformação revolucionária, para o bem e para os males, que ocorre na tecnologia.
Sei lá, Jabor. Essa sua ideia do perigo iminente — ou será imanente? — me lembrou um pouco a Regina Duarte em 2002, dizendo que íamos mergulhar na hiperinflação. Não vamos mergulhar em nada, nem a curto nem a médio prazo. Acho, sim, que o homem, num âmbito global, tem questões fundamentais a resolver sobre sua relação com o meio ambiente, com os recursos, com sua distribuição.
O Brasil, por outro lado, vejo mais como uma nação que cresce do jeito que uma sociedade democrática recente (onde vigora, incontestável, e mais do que nunca, o capitalismo) consegue crescer. Um país com um passado pleno de conflitos, estruturas ainda muito viciadas, que evolui. Os arrepios que venho sentindo, Jabor, são de ordem sensorial, no sentido do belo.
Arrepios ao tocar um pianinho. Ao sentir o vento dourado de poente invernal varrer da cuca o bode preto. Arrepio dessa aragem boa que qualquer um, no carro, no asfalto, no morro, pode sentir, irmanando-se. Arrepio com um romance filosófico da lavra de “Paisagem com dromedário”, de Carola Saavedra. Arrepios de bicicleta. Da crença súbita no amor. E no amor ao Brasil. Ao que somos. Ao que fizemos até aqui. Na boa, Jabor. Pô. Vamos ouvir uma musiquinha. Dar uma respirada."
Fonte: Arnaldo Blog
"A imprensa que me envergonha" por Marcelo Migliaccio no Jornal do Brasil
"RI-DÍ-CU-LA.
Foi a atuação do casalzinho de bolo de aniversário nas entrevistas no JN com os presidenciáveis. Você viu a agressividade do William "Hommer" emcima da Dilma Rousseff? E a subserviência do mesmo diante do Serra,você viu? Se não viu, não perdeu nada, a não ser mais uma oportunidade de ficar deprimido. Se você tivesse visto, teria o desgosto de pensar em como a grande imprensa brasileira abriu mão de seu papel institucional e histórico.
Quando eu cursei jornalismo, o que me fascinava era a chance de contar a história do país dia a dia. Capítulo por capítulo. Mas a grande imprensa brasileira hoje abriu mão desse papel. Virou um partido político calhorda, que ataca de maneira inconsequente o presidente mais popular da história.
E Lula não é popular porque é bonito como foi Collor. Nem porque é catedrático como FHC. Lula é popular, mesmo feio e sem instrução, porque fez a vida dobrasileiro melhorar. Não só do brasileiro pobre, que com o Bolsa Família tem a chance de manter seus filhos na escola, para que eles não sejam párias como seus pais.
Fez também a alegria dos empresários, dos banqueiros, estão todos felizes, não é maravilhoso!?Lula é popular porque o BNDES hoje empresta mais dinheiro que o BancoMundial. Porque pela primeira vez o governo faz obras estruturais nas periferias.
Um amigo meu que mora na Rocinha custou a acreditar que oPAC lá era para valer. Demorou um ano, as obras não pararam e agora o meu amigo acredita que este govenro não é como os outros, que ameaçavam, prometiam, mas na hora de gastar o dinheiro público, davam prioridade aquem já tem muito.
E o William "Hommer", o bonequinho de bolo de aniversário, ali do lado da noivinha tijucana deslumbrada, tratando a Dilma com a maior agressividade. Ao ponto de a noivinha lhe pedir calma com a mão. É que ele quer mostrar serviço, eu entendo...
Quando chegou a vez do Serra, o combatente jornalista William "Hommer"parecia um capacho. Em vez de perguntar do mensaláo do Arruda, ou oValerioduto que começou com o tucano Eduardo Azeredo em minas, perguntoudo mensalão do PT. Aquele do olho roxo do Roberto Jefferson.
Mas a Dilma já está dez pontos na frente do Serra (o Ibope dá cinco e o Datafolha empate, hahahahah). Imagine quando o sapo barbudo aparecer no horário eleitoral... Aí a Dilma ganha no primeiro turno, aposta o meu amigo e cientista político Davis Filho.
Mas, se daqui a 100 anos, um adolescente for consultar os arquivos de jornais da Biblioteca Nacional, vai ler o Biscoito-de-praia, os caipiras-britânicos e a revista-que-pensa-que-o-leitor-é-cego e concluirque Lula foi pior que Hitler.
A imprensa brasileira perdeu a compostura. Ataca o presidente mais querido da história, coisa que nem seus adversários políticos ousam fazer.
Como eu me envergonho de ser jornalista..."
Fonte: Portal Luis Nassif
2 comentários:
Muito boas as duas crônicas.A do Arnaldo Bloch, então!Dizem que o ser é fruto de seu tempo, de sua época. Então é isso: afinidade de idéias.
Já o Arnaldo Jabor não é de hoje que parece estar descolado da realidade e das verdadeiras causas e origens dessa realidade. O "bode preto" é uma ótima figura para expressar aquela nuvem que parece estar sempre acima da cabeça alarmista ou alarmada dele.
Muito bom o Post, Marcos.
Obrigado pelo comentário Leila.
Sobre o Arnaldo Bloch, recomendo um livro que ele escreveu contando a interessante história da família dele (do império que ruiu, Bloch Editores e Rede Manchete). O título do livro é "Irmãos Karamabloch".
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