Interessante esse artigo que teria sido publicado na revista IstoÉ.
Eu confirmei, copiei do site da ABP - Associação Brasileira de Psiquiatria e resolvi colocar aqui no Blog.
Trata-se de assunto que interessa a todos, independente de idade, sexo e condição social.
Vale a pena ler.
O homem não aceita mais ficar triste
Do alto de seus 70 anos de idade e muito tempo de carreira, o psiquiatra mineiro Miguel Chalub deu uma entrevista à revista Isto É falando sobre a dificuldade das pessoas hoje em aceitarem que a tristeza é um sentimento inerente ao ser humano.
Existe uma previsão da Organização Mundial da Saúde que diz que a depressão será a doença mais comum em 2030. Para Chalub há um grande exagero nessa previsão. Ele diz que tanto médicos quanto pacientes confundem muito tristeza com depressão.
As pessoas hoje, não se dão o direito de ficarem tristes, entediadas porque isso é de imediato transformado em depressão. Geralmente, os psiquiatras são os que menos receitam antidepressivos porque são mais preparados para reconhecer as diferenças entre tristeza normal e a patológica.
Segundo Chalub, o despreparo dos demais especialistas e também o fato, de muitos profissionais se deixarem levar pelo lobby da indústria farmacêutica desencadeiam hoje o que ele denomina de medicalização da tristeza.
Hoje, não se pode mais ficar de luto, sentir tristeza por algum motivo ou sentir-se entediado porque isso é transformado muitas vezes em depressão. Estão transformando um sentimento normal, que todo ser humano deve ter numa patologia.
Tradicionalmente a palavra depressão designava um estado mental específico, quando a pessoa apresentava uma tristeza profunda que podia ser vista até fisicamente. A própria postura da pessoa mostrava isso. Não ficava ereta por causa do peso que sentia nas costas e apresentava sintomas físicos como distúrbios de aparelho digestivo, a pele ficava mais espessa.
Hoje, a palavra depressão começou a ser usada para designar um estado humano normal, o da tristeza.
O homem não aceita mais, segundo Chalub, sentir coisas que são humanas como a tristeza.
Segundo o psiquiatra essa mudança se deve em parte pela busca da felicidade que tornou-se um vício na humanidade. Qualquer coisa que possa atrapalhar essa felicidade é chamada de doença porque aí se justifica: "eu não sou feliz porque estou doente".
E surge a tendência de achar que o remédio vai corrigir isso, o que é uma distorção humana.
Existe hoje, a busca pela pílula da felicidade. Pessoas pensam que não precisam mais ser infelizes.
O que diferencia a tristeza normal da patológica é a intensidade. A normal é um estado de espírito e a patológica é mais intensa e longa. Na depressão a pessoa sente aperto no peito, dificuldade de se movimentar, só quer ficar deitada, não se cuida mais. Na tristeza normal pode acontecer isso por um ou dois dias mas depois passa. Segundo Chalub,outros especialistas que não sejam psiquiatras não estão de fato preparados para receitar antidepressivos a um paciente.
Quando se diagnostica de fato a depressão, o remédio torna-se realmente necessário. Em muitos outros casos a terapia é muito melhor e mais eficiente mas receitar a pílula é mais fácil e mais rápido. Isso vem fazendo com que as pessoas centralizem em antidepressivos a fórmula de sua felicidade.
Segundo o médico, "felicidade é estar bem consigo mesmo e com o outro. Estar bem consigo mesmo é também aceitar limitações, sofrimentos, incompetências e fracasso. Ou seja, felicidade é ficar triste de vem em quando."
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