23 de junho de 2010

Por uma "superdemocracia" planetária...

Toda vez que tentamos tratar do tema: democracia, nos deparamos com dificuldades intransponíveis, seja pelo arranjo pouco representativo das ditas modernas democracias, que atuam mais sintonizadas com os fortes segmentos sociais e apostam no resultado da maioria, deixando de lado minorias nem sempre bem articuladas... ou, pelo desarranjo sócio-eco-bio-cultural acumulado nas grandes nações, que em grande parte sequer é identificado pelas lideranças eleitas, seus partidos e setores co-ligados.

O problema é que com o avanço veloz das tecnologias de informação e das consequências traumáticas das mudanças climáticas, não haverá outro jeito, ou nos apressamos para o cultivo urgente de novas visões e instituições para o exercício das tomadas de decisão rumo à um futuro mais promissor para a humanidade como um todo ou não saberemos no que isso vai dar...

Veja o que diz o Leonardo Boff sobre o tema:

     Um design ecológico para a democracia Por Leonardo Boff*

A democracia é seguramente o ideal mais alto que a convivência social historicamente elaborou. O princípio que subjaz à democracia é este:" o que interessa a todos, deve poder ser pensado e decidido por todos".


Ela tem muitas formas, a direta, como é vivida na Suiça, na qual a população toda participa nas decisões via plebiscito.
A representativa, na qual as sociedades mais complexas elegem delegados que, em nome de todos, discutem e tomam decisões. A grande questão atual é que a democracia representativa se mostra incapaz de recolher as forças vivas de uma sociedade complexa, com seus movimentos sociais. Em sociedades de grande desigualdade social, como no Brasil, a democracia representativa assume características de irrealidade, quando não de farsa. A cada quatro ou cinco anos, os cidadãos têm a possibilidade de escolher o seu "ditador" que, uma vez eleito, faz mais a política palaciana do que estabelece uma relação orgânica com as forças sociais.
Há a democracia participativa que significa uma avanço face à representativa. Forças organizadas, como os grandes sindicatos, os movimentos sociais por terra, teto, saúde, educação, direitos humanos, ambientalistas e outros cresceram de tal maneira que se constituiram como base da democracia participativa: o Estado obriga-se a ouvir e a discutir com tais forças as decisões a tomar. Ela está se impondo por todas as partes especialmente na América Latina.
Há ainda a democracia comunitária que é singular dos povos originários da América Latina e pouco conhecida e reconhecida pelos analistas. Ela nasce da estruturação comunitária das culturas originárias, do norte até o sul de Abya Yala, nome indígena para a América Latina. Ela busca realizar o "bem viver" que não é o nosso "viver melhor" que implica que muitos vivam pior. O "bem viver" é a busca permanente do equilíbrio mediante a participação de todos, equilíbrio entre homem e mulher, entre ser humano e natureza, equilíbrio entre a produção e o consumo na perspectiva de uma economia do suficiente e do decente e não da acumulação. O "bem viver" implica uma superação do antropocentrismo: não é só uma harmonia entre os humanos mas com as energias da Terra, do Sol, das montanhas, das águas, das florestas e com Deus. Trata-se de uma democracia sociocósmica, onde todos os elementos são considerados portadores de vida e por isso incluidos na comunidade e com seus direitos respeitados.

SAIBA MAIS

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima discussão. O Brasil e a América Latina é um caso a parte quando se discute o real significado de democracia.
Equilibrio é a palavra chave para desvendar esse enigma instaurado.