11 de maio de 2010

O X da Questão

Não vou fazer nenhum comentário sobre essa matéria. Apenas vou reproduzi-la. A fonte é a revista IstoÉ Dinheiro.
OK, não resisto... Como sabem as empresas do Eike tem sempre no seu final a letra X. É o sinal da multiplicação de seus empreendimentos, multiplicação dos lucros. Lendas urbanas dão outras versões. Mas não vou falar.
No entanto me lembro de uma incrível coincidência. Na época do governo FHC surgiu a idéia de internacionalizar a marca Petrobras. Por pressões da opinião pública o nome foi mantido mas a proposta era mudar para... PetrobraX!
Bem, segue a matéria.

CADA UM NA SUA

Rodolfo Landim tinha o melhor emprego do mundo e fez os maiores IPOs do País, até brigar com Eike Batista, o dono de uma fortuna de US$ 27 bilhões que perdeu seu braço direto. O que há por trás desse choque de titãs?

Por Leonardo Attuch

Fator X. Eis o nome do livro que Rodolfo Landim, até a semana passada o executivo mais invejado do Brasil, anunciou que pretendia escrever. A obra retrataria os bastidores da mais espetacular história de criação de riqueza já vista no Brasil. Nos últimos quatro anos, Landim foi o braço direito de Eike Batista e liderou cinco IPOs na Bovespa: os das empresas MMX, de mineração, LLX, de logística, OGX, de petróleo, MPX, de energia, e, mais recentemente, da OSX, de navegação.

Juntas, essas cinco companhias novatas, ainda em fase pré-operacional, já valem R$ 67 bilhões, quase duas vezes o valor da Gerdau, uma empresa centenária. Suas ações subiram tanto na Bovespa que garantiram a Eike Batista a quarta maior fortuna do mundo, calculada em US$ 27 bilhões. No entanto, o projeto literário de Landim não foi recebido no 10º andar do número 154 da Praia do Flamengo, sede de todas as empresas do “mundo X”, no Rio de Janeiro, como uma homenagem. Soou mais como ameaça.

E o bilionário carioca decidiu retaliar. Eike, que se autodenomina o “homem mais generoso do Brasil”, pediu a um de seus assessores que divulgasse o valor que Landim recebeu nos quatro anos em que trabalhou no grupo: exatos R$ 165.628.144,00. Além disso, disseminou a informação de que desistiu de pagar a Landim um bônus adicional de US$ 4 milhões, por mau desempenho.

Oficialmente, o grupo EBX, holding de Eike Batista, apenas informa, de forma protocolar, que a separação entre os dois se deu de forma amigável e “fechou um ciclo” natural nas companhias. No entanto, revelar cada centavo pago a um executivo – e também o valor dos bônus cortados – não é exatamente um procedimento padrão. Foge às regras da civilidade e da boa etiqueta.

Por trás disso, há um duelo de egos, vaidades e de visões sobre como gerir as empresas recém-criadas pelo bilionário – além de, evidentemente, uma disputa por dinheiro. Muito dinheiro. DINHEIRO ouviu executivos que passaram pelo grupo EBX, analistas de mercado e banqueiros de investimento que participaram dos IPOs para reconstituir cada passo da parceria entre Eike e Landim e também entender por que houve um rompimento tão brusco entre os dois – que pode até semear dúvidas sobre a consistência do modelo de negócios seguido pelo grupo que utiliza a letra “X”, a mesma usada para separar dois oponentes, em todos os seus empreendimentos.

Nascidos no mesmo ano, em 1956, os dois começaram a trabalhar juntos em 2006. Eles se encontraram num voo para os Estados Unidos, no qual Landim, que construiu sua carreira na Petrobras, falou ao empresário sobre a possibilidade de criarem uma companhia privada no setor de óleo e gás, aproveitando os leilões que estavam sendo promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, a ANP. Naquele momento, Eike tinha na gaveta projetos apenas em mineração, um setor que ele, filho de Eliezer Batista, primeiro presidente da Vale, conhecia muito bem.

Seu patrimônio, naquele ano, era próximo a US$ 300 milhões – pouco mais de 1% da fortuna atual. Eike não pensou duas vezes. No próprio avião convidou seu companheiro de voo para se juntar ao grupo EBX. Em abril de 2006, Landim surpreendeu o governo ao se demitir da presidência da BR Distribuidora. Um mês depois, seu nome já aparecia no prospecto do lançamento de ações da MMX, como uma das âncoras do IPO. A experiência e o conhecimento dos executivos do time de Eike foram fatores-chave para convencer investidores a apostar nos seus planos de negócio. E em vez da “mini-Petrobras” sugerida por Landim, nasceu a “mini-Vale” que Eike já tinha em mente.

Landim, no entanto, não trocou a segurança da presidência da BR Distribuidora pelo risco da MMX apenas pela empatia inicial com Eike. Na Petrobras, ele era tido como um dos melhores quadros da estatal. Foi diretor de exploração, onde construiu boas relações empresariais e políticas – e sempre foi tratado com especial deferência pela ex-ministra e hoje candidata Dilma Rousseff.

A ponto de o próprio banqueiro Fabio Barbosa, presidente do Santander e membro do conselho da estatal, brincar dizendo que Landim teria “algo especial”. O que motivou o executivo a sair da BR Distribuidora foi um salário mensal de R$ 300 mil na MMX, além de um pacote agressivo de bônus. Ele assinou um contrato que lhe dava o direito a 1,5% da Centennial, a empresa pessoal de Eike que está acima da própria holding EBX. Hoje, levando em conta o valor de mercado das cinco empresas do “mundo X”, a participação de Landim valeria US$ 400 milhões.

Este, no entanto, está longe de ser seu patrimônio real. Isso porque, ao longo do tempo, o valor dos bônus de todos os principais executivos do grupo EBX foi sendo ajustado para baixo – e a tendência se acentuou após a crise financeira de 2009. Antes disso, porém, todos que estavam sob o guarda-chuva de Eike viveram um grande momento.

Em janeiro de 2008, a mineradora Anglo American pagou US$ 5,5 bilhões por 51% das ações da MMX – e quem estava ali ganhou muito dinheiro. Estima-se que o valor pago a Landim tenha sido próximo a R$ 40 milhões. Em abril de 2008, no entanto, ele deixou a mineradora para se concentrar nos projetos dos futuros IPOs. E, após sua saída, aquele ano foi especialmente ruim para a MMX, que fechou seu balanço com prejuízo de R$ 848 milhões – assim como a Sadia e a Aracruz, a empresa fez apostas erradas com derivativos.

Mas se os projetos em mineração eram fonte de problemas operacionais, a grande vedete do “mundo X” estava nascendo – em junho de 2008, a OGX fez a maior oferta da história do mercado de capitais no Brasil, captando mais de US$ 4 bilhões. E os nomes de ex-executivos da Petrobras, como os de Rodolfo Landim e do geólogo Paulo Mendonça, também ajudaram a ancorar o IPO, que deu origem à “mini-Petrobras”, uma empresa que já anunciou aos investidores a descoberta de diversos indícios de hidrocarbonetos nos seus blocos na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro.

Landim e Eike continuaram se relacionando bem até o início de 2009. Mas, naquele ano, quando as ações das companhias do “mundo X” haviam experimentado quedas espetaculares, o empresário convidou alguns de seus principais executivos para uma conversa reservada. Disse que uma das razões da crise era o “desalinhamento” entre o risco do investidor e os ganhos dos executivos – e afirmou até que essa política de bônus exacerbados havia sido uma das causas do colapso financeiro global.

Dias depois, usou pela primeira vez, dentro dos escritórios do grupo EBX, a expressão “rodar a sacolinha”. Na prática, era uma convocação para que seus executivos abrissem mão de parte de suas participações acionárias, com a finalidade de capitalizar as empresas. Começou ali a debandada de talentos do grupo. E saíram nomes como Dalton Nosé, Ricardo Antunes, Adriano Vaz, Joaquim Martino Ferreira, Nelson Guitti, Eliane Lustosa e Marcelo Cheniaux – todos com passagens bem-sucedidas pelo setor privado e por bancos estatais, como o BNDES.

Landim decidiu ficar. Mas antes teve uma conversa dura com Eike, em meados de 2009. Numa reunião tensa, relatada à DINHEIRO por pessoas ligadas ao grupo EBX, o empresário disse ao executivo que ele teria “dez minutos para decidir se entregaria todas as ações ou se continuaria na empresa”. Landim deu as costas e foi para casa.

Dias depois, recebeu uma ligação de Eike, em sua residência, como se nada tivesse acontecido. E voltou ao grupo para preparar o quinto IPO: o da empresa de navegação OSX. Em novembro do ano passado, o clima entre os dois voltou a piorar. Eike pediu a seus assessores que disseminassem a informação de que a pfarticipação acionária de Landim seria reduzida. E foi assim que a promessa inicial de bônus, de 1,5% da Centennial, caiu drasticamente. Landim poderia ter saído naquele momento, mas já havia convidado alguns amigos ligados à Petrobras, como Luiz Eduardo Carneiro, também da área de exploração, a se juntarem ao projeto da OSX. E não poderia abandoná-los à própria sorte.

O rompimento definitivo aconteceu há duas semanas, quando Landim retornou de uma viagem de férias, à Polinésia francesa, com a mulher e as filhas. A parceria de quatro anos, período em que o patrimônio de Eike subiu de US$ 300 milhões para US$ 27 bilhões, estava definitivamente encerrada, depois de uma fria despedida entre os dois. Em conversas reservadas, Eike passou a qualificar seu ex-braço direito como “mercenário”. Mas, na semana passada, nem mesmo os tais R$ 165.628.144,00, tornados públicos pela assessoria do bilionário, haviam sido integralmente pagos.

Mais do que uma picuinha entre um empresário talentoso e um executivo idem, esse tipo de disputa financeira não faz bem ao modelo de negócios do grupo EBX. Especialmente porque o sucesso do grupo depende de talentos atraídos em empresas estratégicas, que chegam seduzidos pelas promessas de ganhos fabulosos – e não sujeitos a revisões periódicas.

Na quinta-feira 6, depois da saída de Landim, outro executivo de peso deixou a EBX. Foi a vez de Beto Costa, um ex-financista da GP que ocupava a diretoria de novos negócios do grupo. “A verdade é que o Eike não gosta de pagar o que deve, nem o que promete a seus executivos”, disse à DINHEIRO o geólogo João Carlos Cavalcanti, conhecido como JC, que fez algumas das mais importantes descobertas recentes do setor mineral brasileiro.

Bilionário, e atualmente sócio dos grupos Mittal, Opportunity e Votorantim, JC também já teve uma parceria com Eike Batista na empresa IRX, da qual não guarda boas recordações. “Ele não cumpriu o contrato e ainda me deve US$ 8 milhões”, dispara. “Em breve, pretendo acioná-lo na Justiça.” De acordo com JC, o valor dos ativos do grupo EBX é artificial e refletiria “uma bolha” no mercado de capitais.
Este ponto também ajuda a entender, em parte, as divergências entre Eike Batista e Rodolfo Landim.

O lançamento de ações da OSX, o mais recente feito pelo grupo, deixou claro que o mercado já não compra mais com tanta facilidade os projetos do grupo. O papel, que foi lançado bem abaixo das estimativas iniciais, já caiu 35% desde o IPO. E executivos ligados ao grupo dizem que Landim estava mais focado na “entrega” efetiva de resultados, enquanto Eike, que assume publicamente o desejo de ser o homem mais rico do mundo, ainda se preocupava em “vender” novos projetos ou partes de suas empresas a outros investidores – recentemente, a chinesa Wisco adquiriu um naco da MMX e prometeu construir uma siderúrgica no Porto do Açu, no Rio de Janeiro.

Essa divergência conceitual ajudou a separá-los. E também começou a ser explorada por desafetos do bilionário. Dias atrás, o presidente da Vale, Roger Agnelli, cutucou Eike Batista. Ao ser indagado sobre a sugestão de que o Brasil exportasse mais aço e menos minério, dada pelo dono do grupo EBX, Agnelli respondeu de bate-pronto: “A primeira coisa que o Eike tem de começar a fazer é produzir alguma coisa; depois disso, pode entender um pouco como funciona o mercado.”

Eike não respondeu. Até porque a ferida entre os dois é recente e ainda não cicatrizou. No fim do ano passado, o dono da EBX tentou se aproximar do governo federal e montar uma operação para comprar o controle da Vale, que hoje está nas mãos da Bradespar, a empresa de participações do Bradesco.

Eike chegou até a sugerir que entregaria o comando da maior mineradora do mundo ao presidente da Previ, o petista Sérgio Rosa. A contrapartida seria simples: a Vale compraria todas as empresas do grupo EBX, o que fez com que a operação fosse rejeitada pela Bradespar.

Mesmo com a saída de Landim e de vários outros executivos da primeira fase do grupo EBX, Eike ainda tem nomes de peso no grupo. Um deles é Otávio Lazcano, que veio da CSN e preside a empresa LLX. Outro é o banqueiro Roger Downey, ex-Credit Suisse, que comanda a MMX – neste caso, o foco principal é vender a companhia, e não operá-la.

Landim, por sua vez, ainda não definiu seu futuro. Comenta-se que ele estaria preparando a criação de fundos de private equity, voltados para empresas promissoras no setor de petróleo e gás natural. Procurados pela reportagem, nem ele nem Eike quiseram falar sobre os motivos do rompimento.

Não se sabe se Landim, em algum momento, de fato escreverá seu livro “Fator X”. O mais provável é que, antes disso, seja lançada a biografia oficial de seu ex-parceiro. As entrevistas vêm sendo conduzidas pelo jornalista Roberto D'Àvila e o objetivo é inspirar futuros empreendedores a também se tornarem bilionários. O livro de Eike deve ser lançado ainda em 2010 pela Sextante, editora que fatura alto com obras de autoajuda como “O Monge e o Executivo”.

2 comentários:

NoTurno disse...

Tem uma bolha nesse X que vai estourar a qualquer momento.

Anônimo disse...

Para quem não sabe o Landim foi Gerente Geral da Petrobras-Bacia de Campos-Macaé antes de ser presidente da BR.