3 de fevereiro de 2011

Ignacy Sachs - Rio+20

Ignacy Sachs: a RIO+20 deveria superar a RIO-92
Por Tânia Carolina Machado, do CONFEA
 
Ignacy Sachs, economista e sociólogo polonês, naturalizado francês, é um dos pensadores mais renomados da atualidade quando o assunto é desenvolvimento sustentável. Diretor do Centro de Pesquisas do Brasil Contemporâneo na Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais da Universidade de Paris (França), Sachs foi um dos primeiros a trabalhar com o conceito de ecodesenvolvimento, que significa aliar o crescimento econômico com o desenvolvimento social e o respeito ao meio ambiente.
“Estamos a poucos meses de mais uma Cúpula da Terra, em 2012, que será realizada outra vez no Rio de Janeiro. É uma data muito importante, sem desmerecer a Copa do Mundo e as Olimpíadas”, brinca Sachs. Segundo ele, está passando a hora para se começar as discussões e preparações para este grande acontecimento.
Apesar de, em sua visão, chegarmos a 2012 com um ambiente mais favorável do que aquele da Conferência do Rio de 1992, ainda é necessário repensar a maneira negativa com a que está feito o planejamento. Segundo ele, neste início do Século 21, o mundo enfrenta um duplo desafio: ambiental e social. “Não temos direito a pensar soluções que não tratem dos dois sentidos. E isso não se fará pelas graças do mercado”, afirmou. “Um dos perigos que temos de evitar é usar o meio ambiente como um pretexto para jogar para escanteio a problemática social”.
Sachs destaca que, mesmo os países que têm um órgão ou ministério de planejamento, eles acabam se tornando órgãos de orçamento. “Devemos voltar ao conceito de planejamento para acabar com essa ideia de discutir as coisas separadamente. Devemos pensar o desenvolvimento como um todo, articular todas as políticas setoriais dentro de estratégias globais”.
Ele lembra que, no ano de 1954, em Varsóvia, o único instrumento de planejamento era o ábaco, que surgiu dentro de um regime autoritário. “Agora, precisamos repensar o planejamento usando as tecnologias modernas de comunicação, numa democracia, e colocando um diálogo quadripartite e não mais tripartite, como antes”. Ele se refere à inclusão da sociedade civil organizada como um dos pilares para o planejamento, além dos empresários, governo e trabalhadores.
Dentro desse contexto, ele ressalta a importância de se ter um Estado desenvolvimentista pró-ativo a fim de enfrentar simultaneamente dois desafios: o déficit agudo e as oportunidades de trabalho decentes, o que inclui a existência de uma remuneração razoável e condições que não atentem à dignidade e saúde do trabalhador. “Esse conceito é tão importante quanto evitar as mudanças climáticas”, frisou. “Nessa visão, a questão do paradigma energético não se resume à substituição de energias. A tecnologia não vai resolver as coisas por si só, temos de mexer com as variáveis organizacionais”.
Ele lembra, ainda, que nesse pensamento de mudança de rumo da sociedade e do mundo, os países tropicais têm grande vantagem, por exemplo, na produção de biocombustíveis para fortalecer a agricultura familiar. “Estamos numa situação que nos obriga a pensar soluções drásticas dentro de um tempo hábil que se calcula de 20 a 30 anos. E, por isso, a importância de não perdermos a RIO+20, em 2012 como fizemos em 92. Não digo em nível de resoluções, mas do ponto de vista político, que foi um impasse”. AQUI

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