26 de fevereiro de 2011

Os mistérios infindáveis do mundo árabe...

Não há como negar as ondas de transformação que foram desencadeadas no mundo árabe e nem há como prevê as suas consequências no tempo e em todo o mundo!

A bola da vez agora é o "designer", e ditador nas horas vagas(segundo o Marquinho), coronel Kaddafi da Líbia.


Conheço muito pouco da rica história destes magníficos povos árabes, acredito mesmo é que a maioria de nós, ocidentais, cultiva sim um certo mistério e uma admiração desconfiada por esta gente morena, acho até que muito em função dos estereótipos criados pela indústria cinematográfica e literária com os:

 "Ali Babá e seus Quarenta Ladrões" AQUI

"O conto está descrito nas aventuras de Ali Baba e os Quarenta Ladrões, que faz parte do Livro das Mil e Uma Noites ou (Noites na Arábia). Alguns críticos acreditam que esta história tenha sido adicionada ao Livro das Mil e Uma Noites por um dos seus transcritores europeus, Antoine Galland, que foi um Orientalista francês do século XVIII que talvez a tenha ouvido, de um contador de histórias árabe de Alepo. No entanto, Richard F. Burton garantiu que o conto faz parte do original Livro das Mil e Uma Noites. Esta história também tem sido utilizada como popular pantomima no famoso pantomima/musical Chu Chin Chow (1916)."



 ou ainda, "As mil e uma noites"! AQUI

"As histórias que compõe as Mil e uma noites tem várias origens, incluindo o folclore indiano, persa e árabe. Não existe uma versão definida da obra, uma vez que os antigos manuscritos árabes diferem no número e no conjunto de contos. O que é invariável nas distintas versões é que os contos estão organizados como uma série de histórias em cadeia narrados por Xerazade, esposa do rei Xariar. Este rei, louco por haver sido traído por sua primeira esposa, desposa uma noiva diferente todas as noites, mandando-as matar na manhã seguinte. Xerazade consegue escapar a esse destino contando histórias maravilhosas sobre diversos temas que captam a curiosidade do rei. Ao amanhecer, Xerazade interrompe cada conto para continuá-lo na noite seguinte, o que a mantém viva ao longo de várias noites - as mil e uma do título - ao fim das quais o rei já se arrependeu de seu comportamento e desistiu de executá-la."


O fato é que o momento requer revista e olhos atentos ao provir, o mundo dá sinais de que estamos num momento fantástico de transformações imprevisíveis por conta do acesso à informação, às experiências de outros povos, ao momento do fato narrado e assistido em tempo real em toda parte...muito ainda veremos, poucos de nós ainda se deu conta dos implicados rumos que se dará com a chegada de oprimidos seculares na redoma plasmada pela informação à velocidade da luz!

Recorro mais uma vez à "Breve Reflexão" do Mino Carta, numa tentativa simplista de provocar mais algum enredo entre nós deste blog...enquanto isso milhares deixam a Líbia, outros pegam em armas, outros ainda anunciam aos filhos os novos tempos...a maioria abandona o passado e aposta agora tudo num futuro incerto!


"Breve reflexão

Mino Carta
25 de fevereiro de 2011  

Sobre história e cultura árabes e sobre violência e hipocrisia ocidentais


E me vem à mente a Andaluzia, não aquela invadida pelos reis católicos e seus padres vingativos, precursores do nazismo com seus autos de fé, e sim aquela que foi árabe por 700 anos. Quem tiver a ventura de se encontrar com a Alhambra em Granada, ou a Grande Mesquita de Córdoba, ou o Alcazar em Sevilha, não escapará à constatação da grandeza de uma civilização capaz de produzir obras tão deslumbrantes. Comovedoras, poéticas.
Não é que faltem outras provas da extraordinária contribuição da cultura árabe ao progresso da humanidade, e em todos os quadrantes. Por um largo período, séculos e séculos, o pensamento árabe foi decisivo nas artes e nas ciências, da escrita à matemática, da arquitetura à astronomia. Mas eu retorno, neste instante, às cidades andaluzas, onde os templos dos conquistadores aceitavam ao seu redor as juderias, os bairros judeus. Bairros e não guetos.

A conveniência entre árabes e judeus era muito diferente daquela que hoje se verifica no Oriente Médio. Pacífica, então, baseada na colaboração e no intercâmbio, feliz, tudo indica, dentro das possibilidades humanas de viver a felicidade. Diga-se que, longe da Grande Mesquita e da juderia que a cerca, ou ao descer da altura risonha onde se planta a Alhambra, Córdoba e Granada apresentam, fisicamente, alguma semelhança com Sorocaba.


Lembranças suscitam ideias e estas nos permitem viajar no tempo e no espaço. Ocorre-me o devaneio de Lawrence da Arábia em contraste à prepotência e à ferocidade dos turcos otomanos, da Grã-Bretanha e da França, que se esmeraram no projeto de fracionar a terra árabe a seu talante e em exclusivo proveito dos seus interesses imperialistas. Atrocidades morais e materiais foram cometidas pelos donos do poder global às margens daquele imenso golfo do Mediterrâneo, e à constante agressão acabaram por unir-se os Estados Unidos, debaixo do olhar condescendente de todo o Ocidente.
Fala-se muito de Hitler, com excelentes motivos, mas ninguém se incomodou com a chacina de 1 milhão e 200 mil armênios perpetrada pelo Império Otomano, o genocídio do começo do século passado. Resta o fato de que o Estado de Israel nasceu de súbito na Palestina, cujos habitantes ficaram exilados em sua própria terra. Pretendeu-se remir o monstruoso pecado do Holocausto, mas também postar o sentinela da civilização ocidental no coração da área humilhada.
E mais ainda pelos senhores locais, que se prestaram ao jogo ocidental, como Mubarak, por exemplo. Com Kaddafi a política das potências do Oeste ficou entre o cinismo e a hipocrisia, à sombra de uma inextinguível tentativa de negociação de paz e bem do fornecimento ininterrupto do petróleo. Vale lembrar que logo depois do golpe de Kaddafi, a aeronáutica líbia foi equipada com os Mirage franceses, enquanto a Alemanha contribuía para a criação na Líbia de uma indústria química de peso e a Itália baixava a cabeça diante da expulsão de 15 mil italianos do território líbio. Quanto aos Estados Unidos, depois de várias tentativas de assassinar o ditador, em 1986 revogaram as sanções econômicas quando Kaddafi aposentou seus projetos nucleares.
Não se esqueça que em 2009 a Grã-Bretanha libertou e devolveu à Líbia o autor do atentado de 1988 no céu de Lockerbie e que a Itália de Berlusconi de alguns anos para cá trata o coronel como grande estadista, recebe-o com pompa, assina com ele acordos de interesse nacional, sem contar aqueles de interesse privado do premier, talvez tomado de inveja por causa do harém do ditador, sempre incluído no seu séquito onde quer que viaje.


Pode parecer estranho que um forte e sadio exemplo de rebelião parta de uma região tão ofendida neste nosso mundo cada vez mais parvo e desigual. Se penso, porém, nas tradições árabes, na cultura de uma civilização que já foi dominante, não me surpreendo. E recordo os monumentos da Andaluzia."

Um comentário:

M.P. disse...

Ótimo post. Parabéns!