2 de fevereiro de 2011

Nas Ondas do Rádio

Como faz algum tempo que não posto nada por aqui (o titular Luiz Felipe Muniz tem nos brindado com ótimas intervenções) e como sobrou um tempinho agora, resolvi escrever um texto um pouco mais longo.

Comecei a escrever sobre o Egito e todas as variantes que envolvem os mais recentes acontecimentos lá, mas desisti. Vou apostar mesmo é naquilo que mais gosto, já que o tempo é curto. Sobre o Egito (e Iêmen, Jordânia, Marrocos, Líbia, Tunísia, etc.) fiquem de olho na TV e no link indicado pelo Luiz Felipe no post abaixo.

Neste verão li uma matéria sobre emissoras de rádio e andei pensando sobre o fato.

As novas gerações não estão muito ligadas em ouvir rádio e diversos fatores contribuíram para isso.

A reportagem mostrava uma reversão desse quadro e apontava os motivos.

Na minha época de infância (lá vou eu de novo), subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, ouvir rádio era hábito obrigatório para quem gostava de música. Poucos tinham condições de adquirir equipamento de som nos anos 60. Quer dizer, pelo menos a minha família (e a vizinhança) não tinha.

Não havia (ainda) emissoras FM que começaram a surgir em meados dos anos 70. Daqui a pouco falo delas.

As rádios AM dominavam a programação, que era de alto nível. Tinha que ser mesmo, pois o Pop/Rock/MPB da época eram Beatles, Rolling Stones, Roberto Carlos, Chico Buarque, etc.

Eu ouvia muito a Radio Tamoio e a Radio Mundial (AM 860), que tinham uma disputa entre elas.

Na Tamoio existia o programa “Musical dos Colégios”. O DJ dizia: “música do Colégio Pedro II”: Beatles, “Hey Jude”(!). Aí o pessoal ligava para lá para votar nas preferidas. As mais pedidas retornavam nas campeãs.

Na mesma linha a Mundial tinha o “Show dos Bairros”: “Música da Tijuca”: Tim Maia, “Azul da Cor do Mar”(!).

E lançavam-se LPs das emissoras: a ótima série “Sua Paz Mundial” teve diversas edições. Aliás foi também Mundial e Tamoio que cunharam o termo “Good Times” nos programas que recordavam músicas de anos anteriores: “Saudade Não Tem Idade”.

Nessa linha formaram-se ouvintes conscientes. Parte desse público tornou-se mais exigente e as emissoras atendiam: na MEC, Música Clássica; na JB, “60 Minutos de Música Contemporânea”. E aí vieram as FMs com destaque para a Eldo Pop que mirava no Hard-Rock, Jazz-Rock e Rock Progressivo. Em outro post falo desta.

No final dos anos 70 a coisa desandou e as emissoras tornaram-se “pasteurizadas”: os Djs falavam da mesma forma, tocavam as mesmas músicas, iniciou-se o chamado “jabá” das gravadoras (pagavam para tocar só o que era interessante economicamente para elas).

Pouca coisa se salvou nos anos 80 e uma delas foi a Fluminense FM (a “Maldita”) que transmitia de Niterói uma programação fora dos padrões, sem jabá e com excelentes programadores. Não durou muito tempo.

Os anos 1990 e 2000 foram uma lástima. A ponto de surgirem as emissoras piratas regionais para tentar colocar vida inteligente no ar. Eu participei disso, mais como ouvinte mesmo, sem risco para os jatos.

Foram 20 anos perdidos e aí voltamos ao ponto inicial: novas gerações não sabem o que é uma emissora de radio de qualidade e nem se ligam muito nisso (até porque o radio agora disputa a atenção com outras formas de comunicação, sobretudo Internet).

No entanto, segundo a matéria citada, nos últimos anos o quadro começou a se reverter. Os programadores voltaram a ter importância nas definições do que tocar e na ênfase da informação ao ouvinte.

Talvez isso possa parecer algo sem importância mas, afinal, no que se refere à diversão e arte, o que é importante hoje em dia? BBB?

No livro “O Triunfo da Música” (Cia. das Letras) do historiador inglês Tim Blanning, a importância da música e a sua elevação de status nos últimos séculos é devidamente analisada em cinco pontos chave: prestígio, propósito, espaços, tecnologia e libertação.

Como exemplo da melhoria da situação das emissoras, são citados (no artigo, não no livro) programas da Oi FM, MPB FM, Roquete Pinto AM, Transamérica Pop, Beat 98, Nativa FM, MEC FM em programas como “Novo Som”, “Faro MPB”, “Sangue Novo” (MPB), “Nômade”, “Afrotudo” (World Music), “Segunda-Feira Sem Lei” (raridades e alternativos), “Radio Caos” (música e literatura), “Quem Toca” (música instrumental), “Viva Música!” (música clássica), etc.

São emissoras que transmitem a partir do Rio de Janeiro, mas a programação pode ser acessada também via Internet de qualquer parte.

Fica a dica do Blog.

A citada Radio Mundial tinha um comercial na TV que se utilizava da música abaixo. Era um vôo de asa delta ao som dessa música e com os dizeres “8-6-0: Sua Paz Mundial”. Por causa disso essa bonita canção ficou conhecida como “melô da asa” (melô era uma gíria que se referia à palavra melodia).

O video não é o original. É de um pessoal que salta da Pedra Bonita mas que (acredito) “curtiam” a Mundial também.

Falando em programador radiofônico (o cara que escolhia as músicas que iam tocar), DJs, anos 60 e 70, etc., não poderíamos deixar de citar aquele que foi o grande nome que revolucionou a linguagem radiofônica, trazendo não só uma nova forma de locução, mais jovem, como também renovando musicalmente o radio no Brasil: o saudoso Big Boy!

Achei esse pequeno documentário sobre ele. Na verdade esse vídeo resume bem a história que contei acima.

Como eu citei “rádios piratas” no texto, me lembrei dessa música do RPM.

P.S.:

Feliz Ano Novo Lunar. 2011, Ano do Coelho: Longevidade e Sorte!

7 comentários:

Ryan disse...

Aí Marquinho, valeu!
Tava sumido!
Mas retornou em grande estilo! Há quanto tempo que eu não lia nada sobre a saudosa Radio Mundial.
O documentário sobre o Big Boy foi uma descoberta!
Valeu, fera!
Abração.

Alice in Wonderland disse...

Uau!
Faz tempo isso, hein?!
Mundial e Eldo Pop trazem boas lembranças.
A minha surpresa foi a citação da Tamoio. Essa era menos conhecida e durou menos que a Mundial.
Muito legal esse blog que analisa essas coisas antigas mas como uma citação do que está acontecendo no presente. É bom que não soa apenas nostálgico e não se perde no passado.
Mas que dá saudade desses tempos, isso dá.
Bjs.

Josi disse...

Muito bom te ver de volta no blog.

Marcos Oliveira disse...

Thanks!

Luiz Felipe Muniz disse...

Realmente Marquinho vc mandou muito bem com esta lembrança das rádios!

Eu tinha uma vitrola azul pequenina que ficava na cabeceira de minha cama. Era na verdade um toca-disco com rádio AM e com ondas curtas, certamente isso se deu nos anos 70, e era o máximo quando conseguíamos sintonizar a Mundial... dormir ao som da Rádio Mundial - 860 era o maior sucesso...que saudade! Nem toda a noite pegava bem...

Até hoje eu sinto muita falta da "Mundial", uma delícia esta saudade! Valeu!

Marcos Oliveira disse...

É isso mesmo Felipe.
Legal essa história sua da “vitrolinha” que era também radio. Bons tempos, apesar das limitações em relação aos dias de hoje.
Quando me mudei para Campos, nos anos 70, ficou bem difícil captar a Mundial. Dependia muito do tipo do radio, das condições meteorológicas, do horário, etc.
Mas tinha uma emissora em Campos muito boa que não era acompanhada pela maioria das pessoas. Chamava-se “Campista Afonsiana” (AM). Pertencia à Igreja Católica e era transmitida a partir do Convento dos Padres Redentoristas (por coincidência moro hoje perto desse Convento que não é mais convento e sim o Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, mas todos continuam chamando de “Convento”).
Pois ela transmitia as missas, mas fora isso era totalmente musical. Quem fazia a programação entendia muito bem das coisas, pois ouvia-se ali Caetano Veloso, Mutantes, Gentle Giant, Supertramp, Pink Floyd, etc.
Depois a emissora foi vendida e acabou a qualidade.
Já nos 80, com um pouco mais de recursos, montei uma equipamento de captação das FMs do Rio. Conseguia ouvir a Fluminense FM (a ‘maldita’) com se fosse emissora local. Depois ela acabou também...
Hoje, via Internet, pode-se ouvir tudo do mundo todo, mas a magia daqueles tempos não existe mais...
Abraço.

Anônimo disse...

Queria saber o nome de uma orquestea com um ritimo tipo jazz funk instrumental e nos anos 1987 a 1989 tocava muito na mundial am principalmente no show dos bairros. Por favor quem souber me responda. Valeu